Saturday, October 11, 2008

O Pyw é meu pastor e nada me faltará

Ainda aturdido pelas discussões filosóficas da quinta-feira, a demonstração sentimental do Taborda e os gritos de rock and roll do Pyw, decidi que nesta sexta-feira eu faria algo diferente. Decidi que mudaria o destino da minha vida neste continente. Realmente a vida pode nos dar as costas em alguns momentos e é justamente nesta hora que é mais importante encher os pulmões e soltar um urro, O urro, que seja capaz de mudar o destino do universo.

Buenas, depois de cruzar Madrid de Oeste a Leste cheguei à tal Plaza de Toros. Achei que ia visitar, mas uma fila gigantesca se amontoava em frente à bela obra arquitetônica e a última coisa que eu precisava para me animar era ver uns caras vestidos de palhaços matando aos poucos um boi. Dirigi-me a um local mais calmo e abri meu volume de O Lobo da Estepe e fiquei lendo. Lá pela página 160 eu fecho o livro e digo: CHEGA! Alguns gatos pingados me olham por breves instantes e depois voltam a se entreter com suas vidas desprezíveis. Foda-se se eu cruzei o mundo por causa de uma mulher e ela nem tchum. Foda-se tudo. Virei cinzas, mas agora era a hora do meu renascimento.

Me dirigi ao mercado mais próximo com um pensamento na cabeça: UÍSQUE. Maldito supermercado que mantinha os destilados injustamente aprisionados em um armário chaveado e sem nenhum espanhol debilóide pra abrir. Acabei pegando uma garrafa de vinho. Uma não, duas. Vinhos ruins, diga-se de passagem. Retomei minha rota, desta vez de Leste a Oeste, com duas garrafas na mochila, uma lágrima no olho e muita raiva no coração. Me atrasei para a janta, de forma que comi praticamente sozinho. Mas quando preenchi minha bandeja com os doces e suculentos alimentos à disposição e a coloquei sobre a mesa, pensei: ei, tá faltando alguma coisa aqui. Voltei para o quarto, peguei a garrafa de vinho, a primeira, e me lembrei porque se compra vinho de caixinha quando não se tem abridor. Herculeamente, com a ajuda de uma tesourinha de unha/pentelho/barba e de uma caneta esferográfica consegui abrir a garrafa, não sem muito vinho esparramar pelos meus aposentos. Voltei embalsamado em vinho para o refeitório e com o sorriso largo pela conquista garrafal, portando meu troféu numa mão e um escudo contra os olhares inquisidores na outra. Lá jazia minha refeição, já fria, já sem gosto, já sem vida. Mas quem se importava? A cada garfada eu sorvia um gole do doce suco de uva fermentado e a cada segundo o mundo parecia brilhar mais e mais. Sozinho, bebendo, com pessoas jovens e joviais ao fundo eu deveria me sentir desprezível, um rato, mas tal qual Colombo em sua caravela, eu me sentia prestes a descobrir um novo mundo.

Saí do refeitório e me dirigi calmamente ao estacionamento para o consumo tabagista, ainda carregando comigo pouco menos de meia garrafa de vinho. Algo entre a primeira tragada e o terceiro gole de vinho saem duas pessoas para fumar também. Finalmente eu conseguia atrair presas para o meu ambiente de maior desenvoltura social. Ao que conversamos, tratava-se de um casal de nordestinos que viera a Madrid fazer um curso de 3 meses. Conversas sobre imigração, clima e preço dos cigarros deram o tom da conversa até que chega para unir-se a nós o ser humano mais bizarro que já saiu do ventre de uma mulher. Páris era seu nome. O cara nasceu nas Ilhas Canárias, morou no Brasil, na Espanha, na França e na Grécia ao que explico: o pai dele é embaixador brasileiro, casado com uma espanhola. O cidadão, visivelmente embriagado, começa a contar histórias taxísticas sobre a sua juventude, a vez que Paul MacCartney jantou em sua casa, a grande freqüência de visitas que Vinícius e Tom faziam ao seu lar em sua época de infância e o fato do seu padrinho ser o Chico Buarque. Bom, obviamente desse cara só poderiam vir as melhores histórias e eu e os nordestinos nos calamos a escutar por exceção de algumas intervenções que o álcool no meu sangue conduzia. Aí eu me enchi o saco e, já ébrio, disse: quero um violão. Opah! Tinha um cara na área de convivência tocando, ao que eu disse: deixa eu ver? O Cainelli vai gostar dessa. O cara arranhava 6 ou 7 acordes que o permitiam tocar Legião Urbana e Raul Seixas numa boa e no que ele "deixa eu ver" o violão eu faço alguma coisa que não me lembro agora que fez as gurias presentes dizerem um sonoro óóóóóóóóóó. Realmente a bebida é uma boa amiga da música e sem conseguir enxergar as cordas eu fiz acordes por puro instinto e malícia, fui dominado por um espírito do blues e toquei coisas que eu jamais tocara antes. A roda anteriormente restrita a 4 pessoas agora pulsava como um estádio em chamas, me levando ao suor e à emoção plena. Rasguei meu dedo, mas valeu a pena.

Finalmente, quando bebia mais vinho, fomos todos vaiados pelo segurança do local que nos enxotou para os quartos (ou era isso ou era ficar em silêncio e sem fumar, ahpáputaquepariu). Chego em minha habitação e meu computador estava ligado, OPAH. Diversas janelas do msn em cor alaranjada em minha tela. Vou descartando-as conforme vejo que seus respectivos donos não mais online estão até que chego à última. A janela da Tara. Contextualizo. No Chile eu fiz um grande amigo chamado Graham Fisher, que era um americano de Wash DC e uma pessoa da mais boa índole, fã de guns and roses, álcool e putaria. Agora que eu vim pra Madrid ele disse que vai vir aqui me visitar em julho do ano que vem, nas minhas férias, para fazermos noites violentas e mudarmos o destino do continente europeu pra pior. Essa Tara é amiga dele e professora de espanhol e se mostrou entusiasmada de vir também, ao que ele enviou fotos minhas pra ela, ela me adicionou no msn e no facebook e estamos nos falando há uns 4 dias. Bom, TECLO com ela por cerca de meia hora, errando absolutamente todas as palavras em um esforço inútil de escrever corretamente quando bêbado e falo umas bobagens pra ela ao que ela declara que está interessada em mim e que gostaria de vir antes pra Espanha pra poder acabar com sua frustração sexual....

Sem nada mais a dizer......

Não é uma grande história, mas é um belo começo para jornadas européias de uma vida que ainda tem muito rock and roll pela frente.

Fui dormir com um sorriso no rosto e a agridoce sensação de ter que admitir que o Pyw sempre tem razão.

1 comment:

Anonymous said...

E para os que não fumam ou bebem vinho o que resta? Me diz Dr.?
A semana foi péssima e o sábado pior ainda...
Bo