Wednesday, October 7, 2009

Sobre o óbvio

Eu procurei evitar, mas minha resistência atingiu seu limite. Morando em Madrid, recebi diversas parabenizações sobre a conquista carioca para sediar os jogos olímpicos em detrimento da capital ibérica. Ora, perguntei a cada um deles se sentiriam-se orgulhosos pela eleição da Romênia ou da Estônia para a realização de tal evento. Me olhavam confusos. Essa é a proximidade que sinto para com o Rio de Janeiro. Fora a língua eu não tenho e não sinto nenhuma aproximação em qualquer nível com aquela terra.

Por outro lado, como brasileiro, me sinto triste. Triste por conhecer o suficiente do meu país para saber que não valerá de nada para o povo, tanto Copa do Mundo como Olimpíadas (e me questiono se um povo que permite que o próprio povo vandalize todo e qualquer bem público que lhe é disponibilizado merece destino melhor). No Brasil, nada dá certo. No Brasil se toma, se pilha, se desrespeita. No Brasil as pessoas sentem orgulho da seleção de futebol e de se tornar por meia hora o centro do universo. "Ganhamos do Obama". "Lula é o cara". Sim, o Brasil é melhor que os Estados Unidos. É melhor que o Japão e a Espanha. Por favor...

Eu não creio nos políticos do meu país e nem no povo. Não creio que eventos internacionais sequer reduzirão o controle que o tráfico exerce na capital carioca e que o crime em território nacional se reduzirá. Não creio em uma nação que se projeta como "pujante" e "modelo", que se gaba da forma como enfrentou a maior crise econômica dos últimos 50 anos e que, ao mesmo tempo, se permite ter níveis pavorosos de miséria, de fome, de analfabetismo, de empreguismo público, de desconsideração com todo e qualquer valor social.

O Brasil não é o país do futuro e nem do passado. Presente? Gargalho. O Brasil é um país surreal, atemporal e condenado. Temos o ótimo, sim. E ao lado temos o horror. Infelizmente nasci com dois olhos. Feliz dos que são caolhos e escolhem a realidade que lhes apetece.

E segue o samba na avenida...

Sunday, September 13, 2009

Marselha em fotos III


Marselha em fotos II


Marseille em fotos


Marseille

Buenas, vâmbora: relato de viagem - Destino: Marselha, França, Costa do Mediterrâneo. Motivo: Passagem. Barata. Fomos.

Problemas: Nada sabíamos do destino, realmente apenas nos dirigimos para aí devido à atratividade do nome e o preço. Não sabíamos mais que três frases em francês. Não tínhamos nenhuma reserva de hotel ou coisa parecida.

Primeiras impressões: Chegamos já meio que tarde da tarde em Marselha na quarta-feira e pegamos o ônibus do aeroporto para o centro da cidade. Parecia meio vazio, meio sombrio, meio exageradamente povoado por argelinos e carente de turistas ou coisas turísticas ao menos. Aí decidimos caminhar. Chegando numa rua que parecia mais civilizada tomamos à esquerda (3 dias depois descobrimos que se virássemos à direita chegaríamos onde chegamos por outros meios, vias e aleatoriedades: o porto velho de marselha, centro de bares, jogatina, fumaça e diversão). Péssimas primeiras impressões. Decidimos ir para outra vila costeira no dia seguinte.

Porque não fomos para outra vila costeira: porque já decididos a tomar um trem ou ônibus ou modal disponível, comíamos um sanduíche de café da manhã quando interpelados fomos por um francês de inglês tosco, mas funcional, que nos criticou muito por querermos ir pra Saint Tropez, dizendo que aquilo era um centro de ostentação e que se quiséssemos ir à praia que fôssemos em Marselha que era mais barato, mais legal e mais azul. Vale dizer que ele era uma espécie de mendigo (mas europeu, saca?). Acabamos ouvindo o sábio e usando das ferramentas linguísticas que a natureza nos oferece para achar a tal da praia em Marselha.

A tal da praia em Marselha: Sensacional. Mediterrâneo azul como as boas versões da camisa do Grêmio. Infinitas mulheres de topless (velhotas, jovens, feias, bonitas, gordinhas, magrinhas e espetáculos) e um tremendo choque cultural. Mas no começo, depois fica natural (exceção às mulheres-espetéculo, mas essas até de burca). Acompanhados de toda nossa bagagem (duas mochilas que é o que as low cost te permitem levar no vôo sem te arrancarem um órgão vital) farofeamos na côte d'azur.

Pontos turísticos: Chateau D'If (castelo onde o Edmond Dantes fica preso por 14 anos no Conde de Monte Cristo), Stade Vélodrome e Palais Longchamp (se tu acha que foi pra Paris, viu a Torre Eiffel e o Louvre e acha que levou o melhor da França, think again, mané - esse Palácio é daqueles Palácios estilo Palácio mesmo, saca?).

Alimentação: Sem falar a língua e com pouca grana, McDonalds e Kebab são sempre as melhores opções.

Ponto Marcante: busca incessante por hotéis nos 3 primeiros dias (acabávamos sempre sendo expulsos por reservas existentes de pessoas cautelosas - e que não sabem se divertir).

Retorno: já no ônibus, atrasados, resolvo conferir a passagem e percebo que a saída do avião estava marcada para 30 minutos antes do que eu pensara. Tinha certeza de que íamos perder o avião, mas corremos pelos corredores, furamos a fila da segurança, não passamos no guichê para pegar o carimbo de validade dos nosso passaportes de estrangeiros (e fomos duramente criticados por isso posteriormente) e ainda consegui burlar o sistema de raio-x e levar comigo um protetor solar (deus me livre que vou deixar 7 euros assim de graça presse povo do aeroporto). Já suados, atrasados e bufando, tivemos a chance de comemorar ao sermos os últimos a entrar na aeronave.

Au revoir, Marseille!

Sunday, September 6, 2009

Astro de Televisão

Como até mesmo os não aficcionados por futebol sabem, ontem, 5 de setembro foi jogada a "Batalha de Rosário", partida de futebol entre o Brasil e uma tal Argentina. Além da rivalidade proposta pelos azuis (na minha opinião só pode haver rivalidade entre iguais e que me desculpem os platinos, mas o país deles é uma piada de mau gosto), o jogo era fundamental para suas pretensões classificatórias para a Copa do Mundo de 2010.

Buenas, até aí vamos dentro da normalidade. O inusitado é que um canal de rede nacional espanhola achou interessante travar um embate de provocações entre um torcedor brasileiro e um argentino. Não faço idéia e não me interessa como, mas acharam um anão para representar o país que tem como figura máxima um cheirador de pó. Já para defender a pátria amada, idolatrada e salve salve eles entraram em contato com a Casa do Brasil em Madrid, residência universitária do gigante deitado eternamente em berço esplêndido (penso quando vai se levantar...). E lá morei de setembro de 2008 a julho de 2009, tendo me tornado conhecido pelas opiniões infames sobre absolutamente qualquer assunto, inclusive futebol. Devido a isso fui recomendado à produção e na última sexta-feira, 4 de setembro, gravei algo em torno de 2 minutos (1 minuto falando verdades ofensivas sobre o povo argentino* e 1 minutos gesticulando sem poder falar - ordens do diretor). Pronto, em 1 take eu sintetizei 26 anos de ódio, ojeriza, asco e cumpri com meu objetivo na Terra. O vídeo foi ao ar no mesmo dia (4/set) em rede nacional no horário nobre (21h).

Não temo pela minha segurança nas ruas, já que, como disse, tenho o sentimento do dever cumprido. Qualquer represália argentina não apagará aqueles 120 segundos de disparates contra toda uma nação**.



*Toda verdade sobre um argentino soa ofensiva. Não deixam de ser verdades, porém.

** Quando tiver o vídeo em minhas mãos farei um upload no blog para todos os 3 leitores***

***eu incluído

Thursday, September 3, 2009

Asfalto

Me lembro de quando era criança e passa mês e meio longe de Porto Alegre no verão. Lembro como era aventuroso e satisfatório chegar à costa e viver um ritmo de vida completamente diferente, de bermuda e bronzeado, de sorvete e camarão. Ficando menos jovem, estes períodos se reduziram a finais de semana, mas o que importa é o sentimento quando do retorno. Uma sensação de voltar ao lugar ao qual pertencia, o concreto, o asfalto, o barulho. Nunca sei dizer se sentia falta de Porto Alegre ou do ritmo urbano em si.

Seria, talvez, mais fácil de responder isso quando do meu retorno de períodos longos em outras cidades, ainda mais metropolitanas, e concluo de que não era a Câncio Gomes ou a Goethe que me faziam saudoso. Nasci em edifícios e aí é o meu habitat natural. Aprecio a calma da cidade pequena, da vila costeira, mas aprecio como um ser civilizado aprecia a sobremesa: um pouco e depois do almoço.

Hoje, eu não tenho um lar, tenho lares. E são todos cobertos de poluição e caos.

Tuesday, August 25, 2009

Simples

Penso se as coisas mais complicadas, as mais trabalhosas são as melhores. Meio que concluo que não. As solução mais simples, as mais bem tramadas intelectualmente, a meu ver, se sobressaem e trazem soluções mais inteligentes.

Talvez investir o tempo em pensar e divagar seja mais produtivo que abraçar a primeira idéia e ir pro "mãos à obra".

Simplicidade. Concisão. Na escrita, nas idéias, em qualquer coisa. O pouco, quando bem planejado, é muito mais.

Sunday, August 23, 2009

Localização

Vale a pena falar algo sobre a localização da minha moradia em Madrid. Moro no centro antigo, perto de prédios mais antigos que o meu país de origem, incluindo o Palácio Real que fica a dois minutos caminhando da minha casa (e seus belos jardins que são abertos ao público). Mas isso não tem importância similar ao fato de que moro na frente (mesmo, exatamente na frente) da entrada de trás de uma delegacia de polícia.

Todos os dias, nos momentos de tédio e nos que não são, temos o que de mais improvável pode existir. Prostitutas, travestis, imigrantes africanos, batedores de carteira e afins. Os melhores, sem dúvida, são os africanos, claramente desesperados pela iminente deportação. Um deles, semana passada chorava, esperneava, chutava a parede descalço, batia com a cabeça num carro. Desculpem minha insensibilidade, mas entretenimento de primeira categoria. Eu não posso interferir nas mazelas da vida de todo mundo (Fernando Pessoa já dizia que todo o mal do mundo vem de nos preocuparmos para o bem ou para o mal com a vida dos outros), então eu aproveito o reality show da vida do camarote da minha ampla janela (a única coisa ampla no meu apartamento - metade é janela).

Saturday, August 22, 2009

Road Trip

Estava procurando por filmes para fazer download quando dei de cara com o filme Road Trip. O importante aqui é a data: esse filme é de 2000.

Quem não viu, apenas recomendo assistir se tiver menos de 21 anos. Se tiver mais, pode causar séria depressão e fazer perceber o fracasso de caráter que recai sobre você.

Esqueçam literatura, pintura, fotografia, música. Esqueçam Cervantes, Goya. Não há nada mais formador de um ser humano decente que as comédias adolescentes norte-americanas. Se "Curtindo a Vida Adoidado" não está entre os seus 5 filmes favoritos, busque manter distância de mim. Se Road Trip ou Euro Trip não lhe dá vontade de fechar uma mochila e ser inconsequente, eu sinto muito, mas muito mesmo, pelo destino de vossa alma.

Felizmente, e apesar de não ter vivido em uma residência universitária americana durante meus estudos superiores, eu me deixei influenciar o suficiente por estas obras-primas para me tornar um cara legal. Eu nunca tive a mulher mais estonteante ou o abdômen mais definido, eu nunca fui proclamado herói e jamais fui o bonitinho. Mas já desviei meu curso de viagem em 800km porque um amigo estava loucamente apaixonado por uma paranaense, já me vi sem dinheiro em uma cidade estranha aonde tinha ido pelo amor da minha vida daquela semana, já conheci a menor das rodoviárias do país e atravessei a Bolívia para curar um coração partido.

Eu não sou melhor. Mas eu não tive medo, em alguns momentos decisivos da minha vida, de tomar a responsável decisão de ser irresponsável.

Wednesday, August 19, 2009

Personagens da Vida VI

Paulo, O Chileno: camarada tranquilo que conhecemos de passagem num encontro de estudantes em caxias do sul em 2002 e que reencontramos menos de um ano depois em foz do iguaçú acompanhado de 4 galões de cachaça (o que era inusitado, já que não se destacava pela bebedeira). Tinha uma história sobre pedras, rios, pescoços e jacarés que garantia lhe render diversas conquistas junto ao sexo adversário. Nunca vi funcionar. Tinha uns 30 anos, 10 dois quais vividos na escola de administração da ufrgs, que por algum motivo ele se negava a terminar (para manter seu emprego de guarda noturno ou algo gênero - conforme nos comentou certa feita). Nos acompanhou de de ônibus até Curitiba desde a fronteira paraguaia só pra matar tempo. Não falava muito e nem precisava.

PS: Ele não era chileno, não se parecia a um chileno e nunca nos ficou clara a origem do apelido (que inclusive até pode ter sido inventado por nós mesmos em algum momento ébrio).

Monday, August 17, 2009

Reflexões de uma Vida Gremista

Certa feita, não muitos dias atrás, o amigo Pyw escreveu uma bela peça sobre sua vida como colorado (http://whythefuck.wordpress.com/2009/07/17/memorias-de-uma-infancia-colorada/) e me foi sugerido que fizesse a réplica gremista.

Nada em mim inspira uma réplica ao impecável texto referido, ao que vou expor uma simples versão em três cores inspirada pela obra mestra.


REFLEXÕES DE UMA VIDA GREMISTA

Eu não nasci gremista. Eu não me despertei para o futebol pelo Grêmio. Que faço? Nasci numa casa com uma mãe que passou boa parte de sua formação como ser humano no estado de São Paulo, com irmãos corintianos e palmeirenses (ela? totalmente indiferente), um irmão que não havia se decidido se era gremista ou palmeirense (talvez o rebaixamento do Grêmio para a segunda divisão no começo da década de noventa tenha tido alguma participação nisso) e uma irmã que não parecia se importar muito com isso. Mas tinha um pai, um homem quieto, nunca foi daqueles de ir ao estádio e vociferar ofensas ao juiz, xingar adversários ou usar em demasia as palavras de baixo calão. Mas gremista, mais gremista que qualquer babaca que balança uma bandeira, canta meia dúzia de músicas de ninar versão hard core e desrespeita a todo e qualquer ser humano ao seu redor. Então, este indivíduo singular foi meu molde para torcer para o tricolor.

E eu me lembro claramente de cada competição futebolística que ocorreu naquele ano de 1994. Já me aproximava dos 11 anos e de todas as responsabilidades que chegam com
essa idade. O Grêmio foi campeão da Copa do Brasil sobre o Ceará. Depois de um empate em 0 em Fortaleza, Nildo (Niiiiiiiiiiiildo) marcou o solitário gol do título em Porto Alegre. Estaríamos na Libertadores no ano seguinte, aquele campeonato estranho, do qual me recordava que havíamos participado alguma vez por um LP com uma foto do Renato Gaúcho comemorando um gol na capa sob os dizeres "O MUNDO É AZUL". E o Brasil no mesmo ano ganhava a Copa do Mundo, o famoso Tetracampeonato, o Palmeiras era campeão brasileiro, Criciúma campeão catarinense e o CSA ou o CRB campeão sergipano.

Foi muito fácil ser gremista na década de 90. Sequer entendia nos meus tenros anos como que alguém poderia ser colorado, como alguém podia escolher torcer para um time que não ganha nada nunca.

Mas e o que torcer tem a ver com ganhar?

Pois os gremistas descobriram o inferno nos anos 2000. Não apenas pelo rebaixamento, mas por uma sequencia de campanhas que nos deixava como única emoção nos campeonatos a perspectiva de não ser rebaixado. E caímos. Caímos feio e precisamos de uma reformulação completa de elenco no ano seguinte (além do mais memorável, e medíocre - é importante deixar isso bem claro - milagre da história do futebol) para retornarmos para a divisão de elite do futebol brasileiro, para uma nova de disputa de uma libertadores (ainda que frustrada) e sonhar com coisas maiores. Chegamos a liderar amplamente o brasileiro de 2008, apenas para entregarmos a taça a outra equipe, mas já sonhávamos diferentes, havíamos os gremistas recuperado a honra de torcer pelo time.

Mas, ora, que bobagem.

Eu não nasci gremista. Mas eu tampouco escolhi ser gremista. E a glória da taça me faz alegre, me faz chorar e saber que um mundo melhor é possível para todas as gerações futuras. O gol do título sob a égide tricolor me faz ter certeza que as mudanças climáticas nunca serão tão desastrosas como se declara e que o Brasil se tornará um dia um lugar digno de se viver (utopia das utopias). Mas não é nada disso que pulsa na minha essência de torcedor e é por isso que entendo os fanáticos colorados que nasceram e viveram toda sua infância e adolescência sem um título, entendo a torcida corintiana que se multiplicou nos anos de vacas magras. E mais, entendo o torcedor do Atlético de Madrid, do Palermo, do América de Natal e do próprio Atlético Mineiro. Times carentes de títulos e com estádios recheados de fãs ardorosos e fiéis.

E é isso que me faz gremista. É acordar feliz na segunda-feira quando o Grêmio ganhou, é acompanhar com expectativa a evolução da tabela de classificação do campeonato, é torcer por combinação de resultados. Sim, é tudo isso, mas é também não se importar tanto com isso, é simplesmente ter orgulho do seu time como se fosse seu pai, seu filho, seu irmão. Torcer pelo Grêmio é como torcer pela minha própria vitória.

Thursday, August 13, 2009

Por que a palavra escrita?

Em essência comecei a ler pelo mesmo motivo que comecei a escrever: por obrigação. Comecei a ler porque sempre foi uma paixão familiar (ainda que os 5 tenham gostos muito diversos) e aos 8 anos minha mãe impôs: já sabe ler - tens que fazer bom uso disso. Me comprou um almanaque de capa verde da Disney (Pateta, Mickey, Tio Patinhas e a turma) Demorei meses para ler aquilo, não porque era difícil, mas porque era mais fácil brincar. Mas li e na seqüência passei anos lendo gibis a torto e a direito. Li mais de mil. Fácil.

Nessa época comecei a escrever pra escola. Redações sobre os temas mais imbecis (obrigado, professoras). Acabei ficando bom nisso (em escrever coisas imbecis, tão ou mais idiotas quanto as que eu escrevo hoje) e empilhando boas notas. Nessa fase, nova pressão materna pela leitura de livros (combatida já pela insistência professoral escolar de nos empurrar os mais enfadonhos exemplares que um pré-adolescente pode ser obrigado a produzir resenhas sobre).

Com o tempo o gosto acabou vindo ao natural e há uma década escrevo e leio por gosto, sem me importar pela ausência de avaliadores. Avalio eu o que é bom. Se o que eu escrevo é bom? Isso j´não me interessa.

Esquilo é o Novo Rato é bom (google it, by Mateus D'Almeida). Why the Fuck am I Reading That é ótimo (by Pyw Lindemann). Os russos são excelentes. Aliás, acabei de terminar de ler The Great Gatsby e achei mais ou menos (ainda mais para uma obra tão bem considerada da literatura norte-americana). Me pareceu um conto deveras extenso, demasiado comum, extremamente dependente de sua localização geográfica e temporal.

Felizmente minha relação com as palavras nada tem a ver com hábito. Melhor ainda, minha escrita nada tem a ver com expor coisa alguma senão a mim mesmo (ainda que acreditem que vez ou outra eu exponho a outrem - babacas).

Ler

É instigante como o que eu escrevo pode despertar a mais ampla gama de sensações nos que me lêem. Se escrevo sobre um porre, minha mãe acha que eu sou alcoólatra, meus amigos acham que eu sou legal, minha irmã acha que eu cresci meu irmão nem me lê. Ah, e alguns acham me entendem por isso.

Se escrevo de saudades, acaricio o ego dos saudosos, maltrato a auto-estima dos correntes.

Nem sequer concordo com muito do que escrevo. Não me levem a sério. O que escreve não é o que pensa. Aliás, nem sei se algo do que escrevo é fruto de alguma reflexão.

Não me levem mais a sério do que eu levo a eu mesmo, por favor.

Escrever

É interessante o que desperta em mim o ato de escrever. Vez ou outra me falta inspiração, vez ou outra me sobra, geralmente sou refém do que acontece à minha volta, tento reportar o que minha alma vê através dos olhos.

Antiguidades

www.iamthebira.blogspot.com

Verano en Madrid

Calor, muito calor. Escapei do mês de julho em uma incursão pelo gélido inverno gaúcho, mas fui atropelado por um agosto abafado. É sair na rua e sentir o ar lamber o corpo, forçando a mais pegajosa transpiração. O verão europeu não é lindo, é cruel. Era a única estação do continente que ainda desconhecia. Não há ar condicionado que salve, apenas que amenize o calvário.

Esclareço, também, que sou um admirador do inverno, do frio, do agasalho e do vento que racha os lábios. Mãos nos bolsos e cerveja na borda da janela para gelar.

Wednesday, August 12, 2009

Personagens da Vida V

Paris: Meu primeiro amigo em Madrid. Representação fielíssima (vou lá saber o superlativo de fiel) do mais caricato estereótipo de um boêmio. Bebe, fuma, pede emprestado, entende que "emprestado" significa "dado", magro, inteligente, pintor, poliglota, filho de embaixador e afilhado do Chico Buarque. Se perdeu de amores por uma argentina que trabalhava onde? Num bar. Sumiu, foi pra Grécia. Daqui a pouco volta (?). Já conheceu o Paul MacCartney (isso ele diz. Eu escolho acreditar porque seria um desperdício duvidar).

Fumaça

Uma coisa apaixonante no cigarro, aquilo que eu acredito que é a primeira característica do tabaco que atrai a atenção de um jovem e o arrasta para o vício é a sensação de superioridade. Me lembro do meu primeiro cigarro, da época em que não ansiava pela nicotina após um voo de 10 horas, me lembro de ser um adolescente inseguro (evidentemente) e que aquele palito de palha na mão me deixava tranquilo e me fazia desdenhar dos outros. Em qualquer ocasião social, me sinto acuado quando impedido de fumar, me sinto um homem com a fumaça no peito (nunca fui muito fã de cinema antigo, então não faço idéia de como esta imagem se construiu na minha cabeça).

Dei uma pausa no inventário de pessoas interessantes que conheci na minha vida devido à criação do blog 100000cigarros.blogspot.com da Milena Fischer (jornalista, mãe da Manu e irmã - o mais importante) que acompanha sua tentativa de largar este tão elegante vício. Algo parecido acontece comigo, já que a Tara vem me incomodando para parar (incomodando é um verbo muito mal utilizado nesta ocasião, dado que a causa é nobre) e me pareceu conveniente abordar o assunto.

Pra começar (já no terceiro parágrafo...), admito: gosto de fumar. Gosto do primeiro cigarro do dia, gosto do último cigarro antes de dormir, gosto do cigarro depois do almoço, do cigarro com a cerveja e por aí vai. Gosto do sabor, gosto da sensação e tudo o mais. Mata? Sempre usei o argumento de que "viver mata", de que "nunca se sabe o amanhã" e blablabla. Errado, mata sim, e apenas aceitamos o vício porque mata devagar. Óbvio. Quantos fumantes haveriam se uma tragada matasse? Ou um maço? Ou um pacote? Mas o cigarro é muito mais atraente que isso. Mata devagarinho. 100 mil não é o suficiente (mas te causa uma forte bronquite, certo, Mi?). Quantos? 500 mil? 1 milhão? E assim construímos um cotidiano baseado no tabaco. Fazemos amigos em função de compartilhar o vício, criamos rotinas aliadas ao cigarro e tornamos mais e mais difícil largar o fumacento porque criamos conexões no cérebro que acabam associando praticamente tudo ao ato de inspirar e expirar fumaça.

Ao passo que reduzo meu consumo de cigarros (já foi de 30 a cada 24 horas, agora é de 5), percebo que meus limites de paciência são mais tênues, que me torno mais irritadiço e percebo como é deprimente a tal crise de abstinência. Como é triste ver todo o humor se alterar com uma tragada.

Mas como também é lindo. Como é sedutor o sabor cremoso da fumaça. Eu não vou ser hipócrita e dizer que é repugnante. Acho uma das melhores coisas do mundo. Em verdade, nem penso (ainda?) em largar, apenas em reduzir a um nível mínimo. Não posso ser mais o fumante despreocupado. Não tenho mais esse direito. Divido um teto agora.

Tuesday, August 11, 2009

Personagens da Vida IV

Adão: Taxista que uma vez conduzia Cainelli e eu a mais uma noite de hedonismo da região Goethiana de Porto Alegre. Assumiu (?) que já havia se deitado com mais de 2 mil mulheres e a sua conclusão final sobre sua vida amorosa foi que "bom mesmo é mulher feia, porque tu até fica feliz quando ela te larga (...) e elas vão te largar mai cedo ou mais tarde, então quanto mais feia, melhor". Um filósofo.

Monday, August 10, 2009

Personagens da Vida III

Renan: Conheci ainda quando éramos muleques e o seu cabelo era branco de tão loiro. Depois de uma série de oportunidades que a vida nos deu de no tornarmos amigos, foi definitivamente um porre de tequila que nos aproximou. Cidadão carismático, dono de um portentoso cavanhaque e uma demolidora direita no tênis, um dos mais eficientes jogadores de futebol que a história já produziu a nível amador. Goza de um belo cartaz com a mulherada muito devido à sua fama internacional alcançada através da música.

Sunday, August 9, 2009

Personagens da vida II

Aírton: Cara gordinho, simpático e com cavanhaque. Rodava pelos 40 e alguns anos e foi alvo de uma ironia do destino que envolvia uma piada jocosa com o futuro do amigo Pyw e que (sem nenhuma intenção) correspondia à vida dele. Dizia que estava em Laguna (carnaval de 2002, rico carnaval) por uma mulher. Nos levou pruma praia com o argumento de ser paradisíaca e que era na verdade coberta por restos fecais de bovinos e equinos. Tentou me agarrar (de brincadeira?) na janela do nosso pardieiro.

Personagens da vida

Pyw: Sujeito carismático. Sempre tem uma boa história para contar, ainda que em geral elas sejam apenas baseadas em fatos e nem sempre os personagens desempenharam o papel que nos é transmitido (mas isso não é importante). Gosta bastante de cerveja e coisas fritas (e isso explica muito do porquê de gostar eu dele). Vive uma vida dupla. Fosse casado teria duas famílias. Desafio uma mulher a convencê-lo ao matrimônio. Certeza que já fez mais de mil gols.

Saturday, August 8, 2009

Calles

Vez ou outra, volta e meia, nada que represente muita frequencia, eu me questiono sobre eu mesmo. Em geral me sinto um tanto quanto deprimi do nestes momentos de auto-avaliação. Nem sei bem ao certo o porquê.

Me dá, sei lá, vontade de caminhar. De seguir e nunca mais parar, nunca mais voltar, de levar uma carteira de cigarro no bolso e mais nada. Perder todo e qualquer compromisso já firmado e esperar que com o tempo mais nenhum lençol de expectativas voltasse a me cobrir. Não permitir mais espaços para decepções.

Fica complicado com o tempo entender a trama de escolhas que nos leva de um lugar a outro. O emaranhado caótico de caminhos cruzados, de certos e errados, de direitas e esquerdas, de vou ou não vou, enfim, de quase tudo.

Arrependimento. Frustração. Mantenha as expectativas baixas, Bruno, bem baixas. Não te esqueça que a natureza já te quis morto ou nem sequer fez questão de que tu nascesse. Tu é um erro do ponto de vista seletivo. Ao menos seja um erro que deu certo (e lá vamos com as expectativas de novo).

Preciso de um copo de água.

Wednesday, August 5, 2009

Tocando em Frente

Eu fui uma criança polionírica (significando que nunca fui escravo de um sonho apenas, mas de vários). Nem sei se essa palavra existe, mas exposto o significado me sinto à vontade de seguir com o que interessa.

Nunca fui alguém satisfeito, nunca serei alguém satisfeito. Todos esses sonhos se expandiram muito além das minhas primeiras infâncias e proporcionalmente cresceram junto com os horizontes que se deitavam ao redor do meu mundo. Mas quando estes sonhos deixam o mundo das possibilidades e começam a se concretizar me fica mais cristalina a percepção de que trazem consigo um temporal de renúncias. Uma tempestade de dúvidas sobre o que sempre pareceu tão óbvio. O inevitável sentimento de insatisfação me domina uma vez mais.

Não houve um dia em minha vida no qual não tenha sonhado em conhecer o mundo. Em preparar uma mochila e desbravar o maior número de fronteiras que estivesse ao alcance das idéias. Mas cá estou, em processo de realização disto tudo e insatisfeito. Não somente insatisfeito, magoado, ferido, acuado, em dúvida. Li o que minha irmã escreveu sobre a minha re-partida do Porto Alegre. Mói, tritura, processa e serve meu coração no balcão do açougue para rechear algum pastel em um bar de limpeza duvidosa seja lá onde for.

Melodramático? Ora, apenas um imbecil pensaria em exagero em alguma coisa. Felizmente não sou rodeado de tais exemplares de besta. Tenho apreço por poucos, poucos e bons e sei que são poucos os que têm real apreço por mim. E isso me enobrece. Misantropo, classificou-me um dia um destes bons. Sim, um tanto quanto. Sim, tens razão. Mas não referentemente a estes.

E sigo, comendo pastel de carne moída de coração pra poder seguir, sonhando para não parar, reclamando para não deixar de ser eu e sem absolutamente nenhuma certeza do que será, de onde chegarei e do que terei que deixar pra trás por isso.

Sunday, May 31, 2009

Vésperas

Vésperas, engraçado usar essa palavra como título (me lembra vespas, me dá uma idéia de enxame, me faz refletir sobre o caos). 8 meses vivendo em Madrid, Espanha, Europa, prestes a completar 26 anos sobre solos nem tão sagrados, mas ainda firmes (tive uma experiência aeronáutica semana passada bastante desagradável).

Planejava escrever sobre nostalgia, sobre como as ruas de Porto Alegre à noite me trazem conforto, sobre como tempos anteriores eram felizes e aventurosos, sobre como o cheiro da primavera na redenção me despertava os sentidos. Mentira. Nem toda, mas fã de generalizações que sou, digo que TODA nostalgia é falsa, é baseada numa imaginação retroativa imbecil e seletiva. As ruas de Porto Alegre jamais me trouxeram conforto enquanto por elas navegava, os momentos felizes e aventurosos sim existiram, mas foram tão mágicos quanto contamos em uma folha de papel? E ao inferno com o cheiro de primavera nos parques (e que cheiro é esse? O que a liturgia é capaz de nos emburrecer...).

O melhor dos mundos possíveis. Sim, panglossiano ao extremo (que me perdoem os que não estão familiarizados com o a expressão, mas deveriam ler mais) e perdido por aí, certo que serei o próximo idiota a lamentar a falta da capital espanhola, das suas calles, dos seus aromas. Bêbado de estupidez, desdirei tudo que digo aqui. Serei mais sábio (ainda que a sabedoria seja a maior forma de estupidez no que diz respeito à satisfação pessoal), mais velho, mais seguro. 26 anos. Idade demasiado avançada para ser prodígio em qualquer coisa, novo demais para fazer respeitar minhas idéias (quem sabe perante eu mesmo).

Mas a reflexão que faço é de que, ainda que mais próximo dos 30, me sinto mais ignorante que aos 15. Na adolescência, pensava que meus pais eram atrasados, que estavam desatualizados, pensava que a fama era o caminho da glória e que aos 26 dominaria o mundo do topo. Hoje, percebo em meus pais a mais límpida, prática e contundente forma de sabedoria. Vejo neles o humano, não apenas a instituição parental, o ideal, o respeito, o entendimento mais clássico e valioso do significado do amor. Hoje, quero ser nulo, quero que ninguém me reconheça (a não ser aqueles que eu quero reconhecer), quero transitar em paz. Nada quero dominar, senão a eu mesmo e vejo aí um grande caminho a ser percorrido. Não quero amar por amar e tanto menos viver por viver. Quero ter cuidado e ser político (o que pode me levar a nem sempre ser verdadeiro) e quero ser melhor.

Reconheço os que me amam, os que gostam de mim, os que me respeitam, os que me temem, os que me mentem, os fiéis e os infiéis, os que deixariam de ganhar para não me deixar perder (poucos, muito poucos) e os que fariam de tudo para me verem mal (poucos também, não sou prepotente de acreditar que sou tão relevante assim) e os indiferentes.

26 anos. 26 anos de erros e acertos, de mágoas e lembranças, de aprendizado (muito). Não 26 anos repletos de glórias absurdas como minha memória neste momento quer me fazer crer.

Wednesday, April 1, 2009

Chegando a hora

Depois de mudar todos meus pertences para um armário onde vou morar pelos próximos dois meses com um baiano muito gente fina que me cedeu uma gaveta pra usar de cama, me preparo para mais uma jornada de aventuras nessa vida louca, vida breve (é isso aí, Lobão). Mañana por la mañana me voy a Barajas rumbo a los EEUU, com escala na saudosa Londres. Desapareço por 10 dias (como se eu escrevesse frequentemente...) e depois conto minhas aventuras na terra do Oba!ma e das desventuras do meu encontro cataclismático com o senhor Mateus.

Tuesday, March 31, 2009

Beers of the World





Estéfano, foi mal, tive que jogar fora. Mas fica aí pra posteridade.

Friday, March 20, 2009

Londres

Só escrevo para dizer que:

sinto saudades do clima daquela cidade
da sua sonoridade
da sua diversidade
da sua insanidade
dos pubs
e das ruas
dos ônibus
e das loucuras
de tudo, de tudo mesmo

Londres. Aos poucos e, de repente, em um turbilhão: te toma, te conquista, te massacra de saudades. 4 dias, apenas 4.

http://www.youtube.com/watch?v=VJQRYeBdPRM

Friday, March 6, 2009

Partidas

Hoje foi um dia marcante em alguns aspectos. Não somente a partida do Érico e da Elisa, casal amigo, com quem passava boa parte do meu tempo, mas também a sua falha de planejamento logístico para com as malas que levou o Estéfano e eu a acompanhá-los ao aeroporto, terminal 4, lugar místico na minha mitologia madrilenha, lugar onde 5 meses atrás desembarquei e sobre o qual gostaria de dissertar um bocado.

Foi um tanto quanto desconcertante a experiência de estar ali e ter uma série de impressões sobre o local tão distintas da primeira vez. Me lembrei da sensação total e maciça de solidão na manhã daquele 28 de setembro de 2008, de um certo pavor em nível controlado, da expectativa frustrada de que houvesse lá uma pessoa para me guiar. Lembro de uma saudade repentina de tudo que havia deixado pra trás e da vontade inevitável de pegar o próximo avião de volta para casa. Mas eu não voltei. Por mais difícil que tenha sido em alguns momentos, em especial no início, eu fiquei. E voltando lá me fez pensar nestes 5 meses e em tudo que aconteceu, tudo que mudou, tudo que eu aprendi e tudo que eu consegui, felizmente, desaprender.

E meus amigos se foram. Eu fico. Outros irão, poucos tão bons quanto, mas irão. Deixarão esse universo europeu como um dia eu o farei. Mas longe me espera a despedida e pouco ou nada sei dos sentimentos que me tomarão quando chegar o momento.

Thursday, March 5, 2009

Coisas que eu nunca imaginei que sentiria falta

- Da batida de frutas do pai
- Dos filmes toscos da mãe
- Do duque latindo no meio da madrugada
- Das brigas com meu irmão
- Das discussões com a minha irmã
- Da desatenção da Manu para com qualquer limite ou regra
- De jogar tênis no vento
- Do buffet do Carbone
- De chamar pão de cacetinho
- De saber de cor e salteado como me locomover em uma cidade
- De ouvir rádios ruins cheias de propaganda
- Do trânsito insano
- Das estradas ruins
- De perder no tênis pro pai e sua proximidade septagenária
- Da mãe de mau humor
- Infinitos etcs.

É, a felicidade jaz não em outro lugar senão nas pequenas coisas. Não necessariamente em tê-las ou aproveitá-las, mas, cedo ou tarde, aprender a apreciá-las.

Thursday, February 19, 2009

L (i) (ea) ving

Vive-se e se aprende. Prestes a completar 5 meses de Espanha, vivendo em uma residência basicamente estudantil eu aprendi algumas coisas e reaprendi outras. Realmente é muito difícil estar em um local onde a grande massa está de passagem. Fazer amigos e vê-los ir embora, soprar aquele até logo com a plena consciência de que a probabilidade de que encontrarei aquela pessoa novamente seja similar à de encontrar uma mosca que resolva problemas de álgebra. E é nesse fluxo de adeuses que se deita a vida. Em algum lugar eu escrevi que isso de alguma forma representa as mortes em vida. Morte significando partida, um mundo inteiro em movimento e nós sempre estáticos em uma encruzilhada (como bem reza a teoria da relatividade), sem sequer ter praonde ir, recebendo e se despedindo.

Faz pouco me despedi daquela que acreditei ser o grande amor da minha vida, e foi. Mas morri e tenho até uma nova (inevitável e de data imprevista) morte um novo amor da vida. E nisso vou me confrontando comigo mesmo, meu eu que não me abandona e ao qual não posso abandonar.

I'm living while people keep on leaving.

Baixar a cabeça e trabalhar. Há muito mais que um mundo por ser feito: há um caminho a ser trilhado.

Adendo - Quem sabe um dia com uma dessas mortes, chegue a morte.

Saturday, January 31, 2009

Aos Amigos

4 meses na Espanha. 4 curtos meses, devo dizer. Passou rápido até e mesmo quando foi difícil, foi fácil. Me lembro dos meus dias chilenos e da loucura nostálgica que tinha das noites, tardes e manhãs porto-alegrenses regadas a cerveja barata e trilha sonora ECLÉTICA do Kito.

Talvez seja algum raio de maturidade sendo absorvido por uma das mais juvenis almas que já foram concebidas em ranchos gaúchos. Talvez um pouco de sorte. Talvez muita sorte.

Mas hoje não. Hoje em especial, já madrugada do primeiro de fevereiro de 2009 eu sinto falta dos meus amigos. Sinto dolorosamente a sua ausência e me recordo quase que em um gesto de auto-tortura dos eventos mais banais, do La Rosa mais comum, do tênis mais esquecível na quadra 10, da noite fracassada no opinião, do futebol mais chinelo do planet ball, do churrasco comprado de última hora em Guaíba, da apreensão da Manuela com a novidade mais boba, do porre mais imbecil na sinuca, das bobagens, das discussões, das histórias e das estórias, de tudo.

Se a nenhum lugar pertenço, seguro estou no coração de umas poucas e boas pessoas. Não as vale listar aqui porque a madrugada invade meu pensamento e o esquecimento pode fazer surgir injustiça tamanha que eu jamais me perdoaria. Mas eu tenho certeza que vocês sabem quem são. Tenho também a certeza e a exata noção do quanto fazem falta, não importa que eu esteja no lugar mais bacana do mundo, sem vocês ao meu lado, minha vitória é apenas pessoal, mas jamais inteira.

Done

É a história de um homem. Foi a história de um amor, de um garoto, de uma idéia, de um sonho, de uma esperança, mas no final das contas não é nada demais, é apenas uma história.

É engraçado, todo o pretenso glamour de uma vida no exterior se extingue com o tempo e você começa a se reconhecer nas coisas mais banais de um lugar que não muito atrás era um território distante no mapa. Não posso, contudo, chamar de casa, casa é onde quer que estejam os teus e os meus estão espalhados pelo mundo, às vezes fáceis de identificar pelo conhecimento prévio, às vezes misturados na multidão sem que saibamos a relevância que aquela pessoa possa vir a ter na minha vida.

E com o tempo ficam claras as minhas reais motivações de ter vindo parar aqui. Eu vim aqui para estudar, é verdade. Vim aqui por um objetivo profissional, também verdade. Vim aqui por um amor, verdade. Vim para aprender. Para sofrer. Para rir. Para ser triste. Para ser feliz.

Mas hoje muito muito mudou. Eu já não estou aqui pelos mesmo motivos que anteriormente. Alguns sim, outros nem tanto. No final das contas eu vim aqui por uma simples e forte razão: tornar-me quem eu sou.

Tarefa nem tão simples quanto se imagina em um primeiro momento. Tarefa árdua que rende, muitas vezes, a antipatia de outros. Ora, eu que sempre me julguei tão capaz de manter relações amistosas inclusive com aquelas pessoas que me causavam mais asco percebo hoje um limite baixíssimo para o que não me agrada. Tomei uma postura amarga com todo e qualquer ato desagradável. Me tornei exatamente aquilo que sempre quis, fui em diversos momentos exatamente a pessoa que sempre quis ser em diferentes situações e que amordacei pelo bem-estar do momento. Me suprimia. Não mais.

E aquela por quem acreditei um dia ter vindo aqui, se vai. Há uma probabilidade gigantesca de que nunca mais a veja e exatamente isto, que me causou tanta dor e sofrimento em momentos passados, me causa agora nada senão completa e total indiferença.

Indiferença. Está aí um aprendizado que vale qualquer sacrifício.

Thursday, January 29, 2009

Hwjdpedpwodwpofik

Faz horas que eu não me dedico a escrever algo neste blog patético (obrigado pelos feedbacks aí). Não é falta de tempo, seria uma idiotice dizer isso. Quanto tempo toma uma postagem? 10 minutos? Bom,eu não tenho escrito porque eu não tenho tido a menor vontade. Às vezes pela minha total indiferença, às vezes pela felicidade que sempre me foi um antídoto contra toda e qualquer inspiração literária (ah sim, como se eu tivesse alguma).

De qualquer forma hoje eu escrevo. Estou só no meu quarto. Tive um companheiro por uma semana e todo o ronco dele não foi capaz de tirar meu humor ou diminuir a saudade deste grande amigo que é o Estéfano. Tá na Holanda ele agora e depois ruma pro país de bandeira colorida cuidar da sua vida e matar as saudades da família e namorada. Depois volta, pelo menos.

E eu fico aqui com saudades. Eu não consigo imaginar qual evento da minha vida me fez assim tão nostálgico. Morro de saudades da Tara. Saudades da família. Saudades dos amigos. Saudades do Renan, Pyw, Cainelli.

Descobri aqui que gente é uma merda mesmo. Descobri que minha paciência tem limite e deixei de lado qualquer interesse em agir de forma socialmente respeitável pra bater de frente com quem me incomoda. Não aceito mais desaforo. Não levo pra casa. Não absorvo, expulso.

Vou pros EUA em abril visitar a T. Aparentemente o país dela gosta de mim e não causaram muito tumulto pra me darem o visto. Descobri que só preciso morar de fato na Espanha até fevereiro de 2010. E depois? Ah, meu amigo, sei não, aqui eu não fico, praonde eu vou eu também não sei. Estados Unidos me casar? Voltar pro Brasil pra trabalhar? Ir pro Senegal pegar em armas? Virar guia turístico do Azerbaijão? A ver, a ver.

Saturday, January 24, 2009

Inconsequente

Consequencias são coisas as quais eu não meço, eu lido.