Wednesday, October 7, 2009

Sobre o óbvio

Eu procurei evitar, mas minha resistência atingiu seu limite. Morando em Madrid, recebi diversas parabenizações sobre a conquista carioca para sediar os jogos olímpicos em detrimento da capital ibérica. Ora, perguntei a cada um deles se sentiriam-se orgulhosos pela eleição da Romênia ou da Estônia para a realização de tal evento. Me olhavam confusos. Essa é a proximidade que sinto para com o Rio de Janeiro. Fora a língua eu não tenho e não sinto nenhuma aproximação em qualquer nível com aquela terra.

Por outro lado, como brasileiro, me sinto triste. Triste por conhecer o suficiente do meu país para saber que não valerá de nada para o povo, tanto Copa do Mundo como Olimpíadas (e me questiono se um povo que permite que o próprio povo vandalize todo e qualquer bem público que lhe é disponibilizado merece destino melhor). No Brasil, nada dá certo. No Brasil se toma, se pilha, se desrespeita. No Brasil as pessoas sentem orgulho da seleção de futebol e de se tornar por meia hora o centro do universo. "Ganhamos do Obama". "Lula é o cara". Sim, o Brasil é melhor que os Estados Unidos. É melhor que o Japão e a Espanha. Por favor...

Eu não creio nos políticos do meu país e nem no povo. Não creio que eventos internacionais sequer reduzirão o controle que o tráfico exerce na capital carioca e que o crime em território nacional se reduzirá. Não creio em uma nação que se projeta como "pujante" e "modelo", que se gaba da forma como enfrentou a maior crise econômica dos últimos 50 anos e que, ao mesmo tempo, se permite ter níveis pavorosos de miséria, de fome, de analfabetismo, de empreguismo público, de desconsideração com todo e qualquer valor social.

O Brasil não é o país do futuro e nem do passado. Presente? Gargalho. O Brasil é um país surreal, atemporal e condenado. Temos o ótimo, sim. E ao lado temos o horror. Infelizmente nasci com dois olhos. Feliz dos que são caolhos e escolhem a realidade que lhes apetece.

E segue o samba na avenida...