Friday, January 7, 2011

A História de Todos Nots

As grandes histórias de amor, ou de qualquer outra coisa (abstenhamo-nos do resto, porém), são atemporais - as histórias que contamos, não os fatos, fique claro. Mas não o são na vida de um homem, e o que já deveria estar claro explica-se: são histórias eternas, possivelmente repetíveis através das gerações e nunca fincadas em um contexto fundamental ao seu desenvolvimento. São histórias do homem, da sua natureza, do seu sentimento, da sua imutabilidade de essência. Mas não o são na vida do indivíduo, repito, o amor (estou escrevendo sobre o amor, mas qual não seria minha surpresa se isto valesse para qualquer outra coisa não amorosa?) é específico à idade do indivíduo. Oras, fosse o jovem Werther nem tão jovem assim, tivesse ele uma psiqué mais cicatrizada pelas agruras da vida de todo mundo, não teria ele se suicidado pela menina Charlotte. Teria se embriagado, teria se aproveitado de amores de aluguel, prostituído seus ideais de amor límpido e puro, mas não teria se suicidado. O amor conta a própria história do desamor, ele se torna mais forte, mais inteligente, mais perspicaz a partir dos seus incontáveis fracassos. Ele evolui em sua destruição. O amor juvenil é impulsivo e perfeccionista. O amor adulto é desgraçado e pragmático. É feio, mas é o amor verdadeiro - justo aquele que se perdeu, que já em nada reclama as suas origens.

Atemporais são as histórias no passar dos séculos, mas o contexto do indivíduo é fundamental ao seu entendimento, à apropriação da idéia. Somos maiores que o tempo, à mesma medida que somos infinitamente irrelevantes a ele. O universo da mente humana dura uma eternidade que se passa em um piscar de olhos.

Thursday, March 25, 2010

Se você fuma

Então você sabe que está deprimido quando começa a argumentar com as advertências do cigarro dizendo que elas nada tem a ver com a sua vida.

Saturday, March 20, 2010

Cores

"Felicidade virou pó" serve pra quem teve o coração partido ou pra algum viciado altogether. Às vezes os dois são um só*.

*ausência de sentido.

Sunday, February 7, 2010

Justiça

Justiça é uma coisa pra idiotas. Igualdade é um sonho dos medíocres. Convergência não existe: de poder aquisitivo, de oportunidades, de crenças, de seja lá o que for.

É um mundo de disparidades e ponto final. Uns ganham, outros perdem. Uns merecem, outros não. Sociedade justa é que nem cheeseburger de sorvete: todo mundo quer, seria perfeito, mas tu podes ficar esperando no balcão, nêgo, porque não vão te servir.

Mas, dito isso, eu não posso aceitar a fome, a concentração de renda, um oportunista furando a fila, o desrespeito às regras do jogo. E é por isso que temos as instituições, malandro, as formais e as informais. Não é pra termos justiça, mas sim para fazer da injustiça algo bem claro, fácil de entender e de prever. Te dá uma expectativa de saber quando, como e por que tu vai te ferrar.

Mas nem isso se respeita. Tornam a injustiça mais injusta do que deveria ser.

Thursday, February 4, 2010

Paciência

Eu não tenho tido mais saco pra gente imbecil. E ultimamente eu ando tão sem paciência que eu vejo a todos como néscios em potencial. Pior: babacas realizados.

Evangélicos, colorados, gremistas reclamões, espanhóis em todo e qualquer formato, gênero ou idade, americanos tapados, turistas que caminham devagar, pessoas adeptas de small talk, emissores de piadas óbvias e imbecis, garçons antipáticos, minha imagem refletida no espelho.

Gostaria de poder dizer que "queria tirar férias de mim mesmo e da humanidade por período indefinido", mas isso seria tão mas tão abobalhado que eu seria capaz de cumprir meu desejo ao cometer suicídio.

Taí, membros de seitas que pregam suicídio coletivo eu sou a favor. Deveria ter algum programa de fomento governamental pra isso (liderado por exemplo): mate-se! você pode estar evitando o suicídio de uma pessoa sã.

Wednesday, October 7, 2009

Sobre o óbvio

Eu procurei evitar, mas minha resistência atingiu seu limite. Morando em Madrid, recebi diversas parabenizações sobre a conquista carioca para sediar os jogos olímpicos em detrimento da capital ibérica. Ora, perguntei a cada um deles se sentiriam-se orgulhosos pela eleição da Romênia ou da Estônia para a realização de tal evento. Me olhavam confusos. Essa é a proximidade que sinto para com o Rio de Janeiro. Fora a língua eu não tenho e não sinto nenhuma aproximação em qualquer nível com aquela terra.

Por outro lado, como brasileiro, me sinto triste. Triste por conhecer o suficiente do meu país para saber que não valerá de nada para o povo, tanto Copa do Mundo como Olimpíadas (e me questiono se um povo que permite que o próprio povo vandalize todo e qualquer bem público que lhe é disponibilizado merece destino melhor). No Brasil, nada dá certo. No Brasil se toma, se pilha, se desrespeita. No Brasil as pessoas sentem orgulho da seleção de futebol e de se tornar por meia hora o centro do universo. "Ganhamos do Obama". "Lula é o cara". Sim, o Brasil é melhor que os Estados Unidos. É melhor que o Japão e a Espanha. Por favor...

Eu não creio nos políticos do meu país e nem no povo. Não creio que eventos internacionais sequer reduzirão o controle que o tráfico exerce na capital carioca e que o crime em território nacional se reduzirá. Não creio em uma nação que se projeta como "pujante" e "modelo", que se gaba da forma como enfrentou a maior crise econômica dos últimos 50 anos e que, ao mesmo tempo, se permite ter níveis pavorosos de miséria, de fome, de analfabetismo, de empreguismo público, de desconsideração com todo e qualquer valor social.

O Brasil não é o país do futuro e nem do passado. Presente? Gargalho. O Brasil é um país surreal, atemporal e condenado. Temos o ótimo, sim. E ao lado temos o horror. Infelizmente nasci com dois olhos. Feliz dos que são caolhos e escolhem a realidade que lhes apetece.

E segue o samba na avenida...

Sunday, September 13, 2009

Marselha em fotos III


Marselha em fotos II


Marseille em fotos


Marseille

Buenas, vâmbora: relato de viagem - Destino: Marselha, França, Costa do Mediterrâneo. Motivo: Passagem. Barata. Fomos.

Problemas: Nada sabíamos do destino, realmente apenas nos dirigimos para aí devido à atratividade do nome e o preço. Não sabíamos mais que três frases em francês. Não tínhamos nenhuma reserva de hotel ou coisa parecida.

Primeiras impressões: Chegamos já meio que tarde da tarde em Marselha na quarta-feira e pegamos o ônibus do aeroporto para o centro da cidade. Parecia meio vazio, meio sombrio, meio exageradamente povoado por argelinos e carente de turistas ou coisas turísticas ao menos. Aí decidimos caminhar. Chegando numa rua que parecia mais civilizada tomamos à esquerda (3 dias depois descobrimos que se virássemos à direita chegaríamos onde chegamos por outros meios, vias e aleatoriedades: o porto velho de marselha, centro de bares, jogatina, fumaça e diversão). Péssimas primeiras impressões. Decidimos ir para outra vila costeira no dia seguinte.

Porque não fomos para outra vila costeira: porque já decididos a tomar um trem ou ônibus ou modal disponível, comíamos um sanduíche de café da manhã quando interpelados fomos por um francês de inglês tosco, mas funcional, que nos criticou muito por querermos ir pra Saint Tropez, dizendo que aquilo era um centro de ostentação e que se quiséssemos ir à praia que fôssemos em Marselha que era mais barato, mais legal e mais azul. Vale dizer que ele era uma espécie de mendigo (mas europeu, saca?). Acabamos ouvindo o sábio e usando das ferramentas linguísticas que a natureza nos oferece para achar a tal da praia em Marselha.

A tal da praia em Marselha: Sensacional. Mediterrâneo azul como as boas versões da camisa do Grêmio. Infinitas mulheres de topless (velhotas, jovens, feias, bonitas, gordinhas, magrinhas e espetáculos) e um tremendo choque cultural. Mas no começo, depois fica natural (exceção às mulheres-espetéculo, mas essas até de burca). Acompanhados de toda nossa bagagem (duas mochilas que é o que as low cost te permitem levar no vôo sem te arrancarem um órgão vital) farofeamos na côte d'azur.

Pontos turísticos: Chateau D'If (castelo onde o Edmond Dantes fica preso por 14 anos no Conde de Monte Cristo), Stade Vélodrome e Palais Longchamp (se tu acha que foi pra Paris, viu a Torre Eiffel e o Louvre e acha que levou o melhor da França, think again, mané - esse Palácio é daqueles Palácios estilo Palácio mesmo, saca?).

Alimentação: Sem falar a língua e com pouca grana, McDonalds e Kebab são sempre as melhores opções.

Ponto Marcante: busca incessante por hotéis nos 3 primeiros dias (acabávamos sempre sendo expulsos por reservas existentes de pessoas cautelosas - e que não sabem se divertir).

Retorno: já no ônibus, atrasados, resolvo conferir a passagem e percebo que a saída do avião estava marcada para 30 minutos antes do que eu pensara. Tinha certeza de que íamos perder o avião, mas corremos pelos corredores, furamos a fila da segurança, não passamos no guichê para pegar o carimbo de validade dos nosso passaportes de estrangeiros (e fomos duramente criticados por isso posteriormente) e ainda consegui burlar o sistema de raio-x e levar comigo um protetor solar (deus me livre que vou deixar 7 euros assim de graça presse povo do aeroporto). Já suados, atrasados e bufando, tivemos a chance de comemorar ao sermos os últimos a entrar na aeronave.

Au revoir, Marseille!

Sunday, September 6, 2009

Astro de Televisão

Como até mesmo os não aficcionados por futebol sabem, ontem, 5 de setembro foi jogada a "Batalha de Rosário", partida de futebol entre o Brasil e uma tal Argentina. Além da rivalidade proposta pelos azuis (na minha opinião só pode haver rivalidade entre iguais e que me desculpem os platinos, mas o país deles é uma piada de mau gosto), o jogo era fundamental para suas pretensões classificatórias para a Copa do Mundo de 2010.

Buenas, até aí vamos dentro da normalidade. O inusitado é que um canal de rede nacional espanhola achou interessante travar um embate de provocações entre um torcedor brasileiro e um argentino. Não faço idéia e não me interessa como, mas acharam um anão para representar o país que tem como figura máxima um cheirador de pó. Já para defender a pátria amada, idolatrada e salve salve eles entraram em contato com a Casa do Brasil em Madrid, residência universitária do gigante deitado eternamente em berço esplêndido (penso quando vai se levantar...). E lá morei de setembro de 2008 a julho de 2009, tendo me tornado conhecido pelas opiniões infames sobre absolutamente qualquer assunto, inclusive futebol. Devido a isso fui recomendado à produção e na última sexta-feira, 4 de setembro, gravei algo em torno de 2 minutos (1 minuto falando verdades ofensivas sobre o povo argentino* e 1 minutos gesticulando sem poder falar - ordens do diretor). Pronto, em 1 take eu sintetizei 26 anos de ódio, ojeriza, asco e cumpri com meu objetivo na Terra. O vídeo foi ao ar no mesmo dia (4/set) em rede nacional no horário nobre (21h).

Não temo pela minha segurança nas ruas, já que, como disse, tenho o sentimento do dever cumprido. Qualquer represália argentina não apagará aqueles 120 segundos de disparates contra toda uma nação**.



*Toda verdade sobre um argentino soa ofensiva. Não deixam de ser verdades, porém.

** Quando tiver o vídeo em minhas mãos farei um upload no blog para todos os 3 leitores***

***eu incluído

Thursday, September 3, 2009

Asfalto

Me lembro de quando era criança e passa mês e meio longe de Porto Alegre no verão. Lembro como era aventuroso e satisfatório chegar à costa e viver um ritmo de vida completamente diferente, de bermuda e bronzeado, de sorvete e camarão. Ficando menos jovem, estes períodos se reduziram a finais de semana, mas o que importa é o sentimento quando do retorno. Uma sensação de voltar ao lugar ao qual pertencia, o concreto, o asfalto, o barulho. Nunca sei dizer se sentia falta de Porto Alegre ou do ritmo urbano em si.

Seria, talvez, mais fácil de responder isso quando do meu retorno de períodos longos em outras cidades, ainda mais metropolitanas, e concluo de que não era a Câncio Gomes ou a Goethe que me faziam saudoso. Nasci em edifícios e aí é o meu habitat natural. Aprecio a calma da cidade pequena, da vila costeira, mas aprecio como um ser civilizado aprecia a sobremesa: um pouco e depois do almoço.

Hoje, eu não tenho um lar, tenho lares. E são todos cobertos de poluição e caos.

Tuesday, August 25, 2009

Simples

Penso se as coisas mais complicadas, as mais trabalhosas são as melhores. Meio que concluo que não. As solução mais simples, as mais bem tramadas intelectualmente, a meu ver, se sobressaem e trazem soluções mais inteligentes.

Talvez investir o tempo em pensar e divagar seja mais produtivo que abraçar a primeira idéia e ir pro "mãos à obra".

Simplicidade. Concisão. Na escrita, nas idéias, em qualquer coisa. O pouco, quando bem planejado, é muito mais.

Sunday, August 23, 2009

Localização

Vale a pena falar algo sobre a localização da minha moradia em Madrid. Moro no centro antigo, perto de prédios mais antigos que o meu país de origem, incluindo o Palácio Real que fica a dois minutos caminhando da minha casa (e seus belos jardins que são abertos ao público). Mas isso não tem importância similar ao fato de que moro na frente (mesmo, exatamente na frente) da entrada de trás de uma delegacia de polícia.

Todos os dias, nos momentos de tédio e nos que não são, temos o que de mais improvável pode existir. Prostitutas, travestis, imigrantes africanos, batedores de carteira e afins. Os melhores, sem dúvida, são os africanos, claramente desesperados pela iminente deportação. Um deles, semana passada chorava, esperneava, chutava a parede descalço, batia com a cabeça num carro. Desculpem minha insensibilidade, mas entretenimento de primeira categoria. Eu não posso interferir nas mazelas da vida de todo mundo (Fernando Pessoa já dizia que todo o mal do mundo vem de nos preocuparmos para o bem ou para o mal com a vida dos outros), então eu aproveito o reality show da vida do camarote da minha ampla janela (a única coisa ampla no meu apartamento - metade é janela).

Saturday, August 22, 2009

Road Trip

Estava procurando por filmes para fazer download quando dei de cara com o filme Road Trip. O importante aqui é a data: esse filme é de 2000.

Quem não viu, apenas recomendo assistir se tiver menos de 21 anos. Se tiver mais, pode causar séria depressão e fazer perceber o fracasso de caráter que recai sobre você.

Esqueçam literatura, pintura, fotografia, música. Esqueçam Cervantes, Goya. Não há nada mais formador de um ser humano decente que as comédias adolescentes norte-americanas. Se "Curtindo a Vida Adoidado" não está entre os seus 5 filmes favoritos, busque manter distância de mim. Se Road Trip ou Euro Trip não lhe dá vontade de fechar uma mochila e ser inconsequente, eu sinto muito, mas muito mesmo, pelo destino de vossa alma.

Felizmente, e apesar de não ter vivido em uma residência universitária americana durante meus estudos superiores, eu me deixei influenciar o suficiente por estas obras-primas para me tornar um cara legal. Eu nunca tive a mulher mais estonteante ou o abdômen mais definido, eu nunca fui proclamado herói e jamais fui o bonitinho. Mas já desviei meu curso de viagem em 800km porque um amigo estava loucamente apaixonado por uma paranaense, já me vi sem dinheiro em uma cidade estranha aonde tinha ido pelo amor da minha vida daquela semana, já conheci a menor das rodoviárias do país e atravessei a Bolívia para curar um coração partido.

Eu não sou melhor. Mas eu não tive medo, em alguns momentos decisivos da minha vida, de tomar a responsável decisão de ser irresponsável.

Wednesday, August 19, 2009

Personagens da Vida VI

Paulo, O Chileno: camarada tranquilo que conhecemos de passagem num encontro de estudantes em caxias do sul em 2002 e que reencontramos menos de um ano depois em foz do iguaçú acompanhado de 4 galões de cachaça (o que era inusitado, já que não se destacava pela bebedeira). Tinha uma história sobre pedras, rios, pescoços e jacarés que garantia lhe render diversas conquistas junto ao sexo adversário. Nunca vi funcionar. Tinha uns 30 anos, 10 dois quais vividos na escola de administração da ufrgs, que por algum motivo ele se negava a terminar (para manter seu emprego de guarda noturno ou algo gênero - conforme nos comentou certa feita). Nos acompanhou de de ônibus até Curitiba desde a fronteira paraguaia só pra matar tempo. Não falava muito e nem precisava.

PS: Ele não era chileno, não se parecia a um chileno e nunca nos ficou clara a origem do apelido (que inclusive até pode ter sido inventado por nós mesmos em algum momento ébrio).

Monday, August 17, 2009

Reflexões de uma Vida Gremista

Certa feita, não muitos dias atrás, o amigo Pyw escreveu uma bela peça sobre sua vida como colorado (http://whythefuck.wordpress.com/2009/07/17/memorias-de-uma-infancia-colorada/) e me foi sugerido que fizesse a réplica gremista.

Nada em mim inspira uma réplica ao impecável texto referido, ao que vou expor uma simples versão em três cores inspirada pela obra mestra.


REFLEXÕES DE UMA VIDA GREMISTA

Eu não nasci gremista. Eu não me despertei para o futebol pelo Grêmio. Que faço? Nasci numa casa com uma mãe que passou boa parte de sua formação como ser humano no estado de São Paulo, com irmãos corintianos e palmeirenses (ela? totalmente indiferente), um irmão que não havia se decidido se era gremista ou palmeirense (talvez o rebaixamento do Grêmio para a segunda divisão no começo da década de noventa tenha tido alguma participação nisso) e uma irmã que não parecia se importar muito com isso. Mas tinha um pai, um homem quieto, nunca foi daqueles de ir ao estádio e vociferar ofensas ao juiz, xingar adversários ou usar em demasia as palavras de baixo calão. Mas gremista, mais gremista que qualquer babaca que balança uma bandeira, canta meia dúzia de músicas de ninar versão hard core e desrespeita a todo e qualquer ser humano ao seu redor. Então, este indivíduo singular foi meu molde para torcer para o tricolor.

E eu me lembro claramente de cada competição futebolística que ocorreu naquele ano de 1994. Já me aproximava dos 11 anos e de todas as responsabilidades que chegam com
essa idade. O Grêmio foi campeão da Copa do Brasil sobre o Ceará. Depois de um empate em 0 em Fortaleza, Nildo (Niiiiiiiiiiiildo) marcou o solitário gol do título em Porto Alegre. Estaríamos na Libertadores no ano seguinte, aquele campeonato estranho, do qual me recordava que havíamos participado alguma vez por um LP com uma foto do Renato Gaúcho comemorando um gol na capa sob os dizeres "O MUNDO É AZUL". E o Brasil no mesmo ano ganhava a Copa do Mundo, o famoso Tetracampeonato, o Palmeiras era campeão brasileiro, Criciúma campeão catarinense e o CSA ou o CRB campeão sergipano.

Foi muito fácil ser gremista na década de 90. Sequer entendia nos meus tenros anos como que alguém poderia ser colorado, como alguém podia escolher torcer para um time que não ganha nada nunca.

Mas e o que torcer tem a ver com ganhar?

Pois os gremistas descobriram o inferno nos anos 2000. Não apenas pelo rebaixamento, mas por uma sequencia de campanhas que nos deixava como única emoção nos campeonatos a perspectiva de não ser rebaixado. E caímos. Caímos feio e precisamos de uma reformulação completa de elenco no ano seguinte (além do mais memorável, e medíocre - é importante deixar isso bem claro - milagre da história do futebol) para retornarmos para a divisão de elite do futebol brasileiro, para uma nova de disputa de uma libertadores (ainda que frustrada) e sonhar com coisas maiores. Chegamos a liderar amplamente o brasileiro de 2008, apenas para entregarmos a taça a outra equipe, mas já sonhávamos diferentes, havíamos os gremistas recuperado a honra de torcer pelo time.

Mas, ora, que bobagem.

Eu não nasci gremista. Mas eu tampouco escolhi ser gremista. E a glória da taça me faz alegre, me faz chorar e saber que um mundo melhor é possível para todas as gerações futuras. O gol do título sob a égide tricolor me faz ter certeza que as mudanças climáticas nunca serão tão desastrosas como se declara e que o Brasil se tornará um dia um lugar digno de se viver (utopia das utopias). Mas não é nada disso que pulsa na minha essência de torcedor e é por isso que entendo os fanáticos colorados que nasceram e viveram toda sua infância e adolescência sem um título, entendo a torcida corintiana que se multiplicou nos anos de vacas magras. E mais, entendo o torcedor do Atlético de Madrid, do Palermo, do América de Natal e do próprio Atlético Mineiro. Times carentes de títulos e com estádios recheados de fãs ardorosos e fiéis.

E é isso que me faz gremista. É acordar feliz na segunda-feira quando o Grêmio ganhou, é acompanhar com expectativa a evolução da tabela de classificação do campeonato, é torcer por combinação de resultados. Sim, é tudo isso, mas é também não se importar tanto com isso, é simplesmente ter orgulho do seu time como se fosse seu pai, seu filho, seu irmão. Torcer pelo Grêmio é como torcer pela minha própria vitória.