Friday, January 7, 2011

A História de Todos Nots

As grandes histórias de amor, ou de qualquer outra coisa (abstenhamo-nos do resto, porém), são atemporais - as histórias que contamos, não os fatos, fique claro. Mas não o são na vida de um homem, e o que já deveria estar claro explica-se: são histórias eternas, possivelmente repetíveis através das gerações e nunca fincadas em um contexto fundamental ao seu desenvolvimento. São histórias do homem, da sua natureza, do seu sentimento, da sua imutabilidade de essência. Mas não o são na vida do indivíduo, repito, o amor (estou escrevendo sobre o amor, mas qual não seria minha surpresa se isto valesse para qualquer outra coisa não amorosa?) é específico à idade do indivíduo. Oras, fosse o jovem Werther nem tão jovem assim, tivesse ele uma psiqué mais cicatrizada pelas agruras da vida de todo mundo, não teria ele se suicidado pela menina Charlotte. Teria se embriagado, teria se aproveitado de amores de aluguel, prostituído seus ideais de amor límpido e puro, mas não teria se suicidado. O amor conta a própria história do desamor, ele se torna mais forte, mais inteligente, mais perspicaz a partir dos seus incontáveis fracassos. Ele evolui em sua destruição. O amor juvenil é impulsivo e perfeccionista. O amor adulto é desgraçado e pragmático. É feio, mas é o amor verdadeiro - justo aquele que se perdeu, que já em nada reclama as suas origens.

Atemporais são as histórias no passar dos séculos, mas o contexto do indivíduo é fundamental ao seu entendimento, à apropriação da idéia. Somos maiores que o tempo, à mesma medida que somos infinitamente irrelevantes a ele. O universo da mente humana dura uma eternidade que se passa em um piscar de olhos.