Tuesday, August 25, 2009

Simples

Penso se as coisas mais complicadas, as mais trabalhosas são as melhores. Meio que concluo que não. As solução mais simples, as mais bem tramadas intelectualmente, a meu ver, se sobressaem e trazem soluções mais inteligentes.

Talvez investir o tempo em pensar e divagar seja mais produtivo que abraçar a primeira idéia e ir pro "mãos à obra".

Simplicidade. Concisão. Na escrita, nas idéias, em qualquer coisa. O pouco, quando bem planejado, é muito mais.

Sunday, August 23, 2009

Localização

Vale a pena falar algo sobre a localização da minha moradia em Madrid. Moro no centro antigo, perto de prédios mais antigos que o meu país de origem, incluindo o Palácio Real que fica a dois minutos caminhando da minha casa (e seus belos jardins que são abertos ao público). Mas isso não tem importância similar ao fato de que moro na frente (mesmo, exatamente na frente) da entrada de trás de uma delegacia de polícia.

Todos os dias, nos momentos de tédio e nos que não são, temos o que de mais improvável pode existir. Prostitutas, travestis, imigrantes africanos, batedores de carteira e afins. Os melhores, sem dúvida, são os africanos, claramente desesperados pela iminente deportação. Um deles, semana passada chorava, esperneava, chutava a parede descalço, batia com a cabeça num carro. Desculpem minha insensibilidade, mas entretenimento de primeira categoria. Eu não posso interferir nas mazelas da vida de todo mundo (Fernando Pessoa já dizia que todo o mal do mundo vem de nos preocuparmos para o bem ou para o mal com a vida dos outros), então eu aproveito o reality show da vida do camarote da minha ampla janela (a única coisa ampla no meu apartamento - metade é janela).

Saturday, August 22, 2009

Road Trip

Estava procurando por filmes para fazer download quando dei de cara com o filme Road Trip. O importante aqui é a data: esse filme é de 2000.

Quem não viu, apenas recomendo assistir se tiver menos de 21 anos. Se tiver mais, pode causar séria depressão e fazer perceber o fracasso de caráter que recai sobre você.

Esqueçam literatura, pintura, fotografia, música. Esqueçam Cervantes, Goya. Não há nada mais formador de um ser humano decente que as comédias adolescentes norte-americanas. Se "Curtindo a Vida Adoidado" não está entre os seus 5 filmes favoritos, busque manter distância de mim. Se Road Trip ou Euro Trip não lhe dá vontade de fechar uma mochila e ser inconsequente, eu sinto muito, mas muito mesmo, pelo destino de vossa alma.

Felizmente, e apesar de não ter vivido em uma residência universitária americana durante meus estudos superiores, eu me deixei influenciar o suficiente por estas obras-primas para me tornar um cara legal. Eu nunca tive a mulher mais estonteante ou o abdômen mais definido, eu nunca fui proclamado herói e jamais fui o bonitinho. Mas já desviei meu curso de viagem em 800km porque um amigo estava loucamente apaixonado por uma paranaense, já me vi sem dinheiro em uma cidade estranha aonde tinha ido pelo amor da minha vida daquela semana, já conheci a menor das rodoviárias do país e atravessei a Bolívia para curar um coração partido.

Eu não sou melhor. Mas eu não tive medo, em alguns momentos decisivos da minha vida, de tomar a responsável decisão de ser irresponsável.

Wednesday, August 19, 2009

Personagens da Vida VI

Paulo, O Chileno: camarada tranquilo que conhecemos de passagem num encontro de estudantes em caxias do sul em 2002 e que reencontramos menos de um ano depois em foz do iguaçú acompanhado de 4 galões de cachaça (o que era inusitado, já que não se destacava pela bebedeira). Tinha uma história sobre pedras, rios, pescoços e jacarés que garantia lhe render diversas conquistas junto ao sexo adversário. Nunca vi funcionar. Tinha uns 30 anos, 10 dois quais vividos na escola de administração da ufrgs, que por algum motivo ele se negava a terminar (para manter seu emprego de guarda noturno ou algo gênero - conforme nos comentou certa feita). Nos acompanhou de de ônibus até Curitiba desde a fronteira paraguaia só pra matar tempo. Não falava muito e nem precisava.

PS: Ele não era chileno, não se parecia a um chileno e nunca nos ficou clara a origem do apelido (que inclusive até pode ter sido inventado por nós mesmos em algum momento ébrio).

Monday, August 17, 2009

Reflexões de uma Vida Gremista

Certa feita, não muitos dias atrás, o amigo Pyw escreveu uma bela peça sobre sua vida como colorado (http://whythefuck.wordpress.com/2009/07/17/memorias-de-uma-infancia-colorada/) e me foi sugerido que fizesse a réplica gremista.

Nada em mim inspira uma réplica ao impecável texto referido, ao que vou expor uma simples versão em três cores inspirada pela obra mestra.


REFLEXÕES DE UMA VIDA GREMISTA

Eu não nasci gremista. Eu não me despertei para o futebol pelo Grêmio. Que faço? Nasci numa casa com uma mãe que passou boa parte de sua formação como ser humano no estado de São Paulo, com irmãos corintianos e palmeirenses (ela? totalmente indiferente), um irmão que não havia se decidido se era gremista ou palmeirense (talvez o rebaixamento do Grêmio para a segunda divisão no começo da década de noventa tenha tido alguma participação nisso) e uma irmã que não parecia se importar muito com isso. Mas tinha um pai, um homem quieto, nunca foi daqueles de ir ao estádio e vociferar ofensas ao juiz, xingar adversários ou usar em demasia as palavras de baixo calão. Mas gremista, mais gremista que qualquer babaca que balança uma bandeira, canta meia dúzia de músicas de ninar versão hard core e desrespeita a todo e qualquer ser humano ao seu redor. Então, este indivíduo singular foi meu molde para torcer para o tricolor.

E eu me lembro claramente de cada competição futebolística que ocorreu naquele ano de 1994. Já me aproximava dos 11 anos e de todas as responsabilidades que chegam com
essa idade. O Grêmio foi campeão da Copa do Brasil sobre o Ceará. Depois de um empate em 0 em Fortaleza, Nildo (Niiiiiiiiiiiildo) marcou o solitário gol do título em Porto Alegre. Estaríamos na Libertadores no ano seguinte, aquele campeonato estranho, do qual me recordava que havíamos participado alguma vez por um LP com uma foto do Renato Gaúcho comemorando um gol na capa sob os dizeres "O MUNDO É AZUL". E o Brasil no mesmo ano ganhava a Copa do Mundo, o famoso Tetracampeonato, o Palmeiras era campeão brasileiro, Criciúma campeão catarinense e o CSA ou o CRB campeão sergipano.

Foi muito fácil ser gremista na década de 90. Sequer entendia nos meus tenros anos como que alguém poderia ser colorado, como alguém podia escolher torcer para um time que não ganha nada nunca.

Mas e o que torcer tem a ver com ganhar?

Pois os gremistas descobriram o inferno nos anos 2000. Não apenas pelo rebaixamento, mas por uma sequencia de campanhas que nos deixava como única emoção nos campeonatos a perspectiva de não ser rebaixado. E caímos. Caímos feio e precisamos de uma reformulação completa de elenco no ano seguinte (além do mais memorável, e medíocre - é importante deixar isso bem claro - milagre da história do futebol) para retornarmos para a divisão de elite do futebol brasileiro, para uma nova de disputa de uma libertadores (ainda que frustrada) e sonhar com coisas maiores. Chegamos a liderar amplamente o brasileiro de 2008, apenas para entregarmos a taça a outra equipe, mas já sonhávamos diferentes, havíamos os gremistas recuperado a honra de torcer pelo time.

Mas, ora, que bobagem.

Eu não nasci gremista. Mas eu tampouco escolhi ser gremista. E a glória da taça me faz alegre, me faz chorar e saber que um mundo melhor é possível para todas as gerações futuras. O gol do título sob a égide tricolor me faz ter certeza que as mudanças climáticas nunca serão tão desastrosas como se declara e que o Brasil se tornará um dia um lugar digno de se viver (utopia das utopias). Mas não é nada disso que pulsa na minha essência de torcedor e é por isso que entendo os fanáticos colorados que nasceram e viveram toda sua infância e adolescência sem um título, entendo a torcida corintiana que se multiplicou nos anos de vacas magras. E mais, entendo o torcedor do Atlético de Madrid, do Palermo, do América de Natal e do próprio Atlético Mineiro. Times carentes de títulos e com estádios recheados de fãs ardorosos e fiéis.

E é isso que me faz gremista. É acordar feliz na segunda-feira quando o Grêmio ganhou, é acompanhar com expectativa a evolução da tabela de classificação do campeonato, é torcer por combinação de resultados. Sim, é tudo isso, mas é também não se importar tanto com isso, é simplesmente ter orgulho do seu time como se fosse seu pai, seu filho, seu irmão. Torcer pelo Grêmio é como torcer pela minha própria vitória.

Thursday, August 13, 2009

Por que a palavra escrita?

Em essência comecei a ler pelo mesmo motivo que comecei a escrever: por obrigação. Comecei a ler porque sempre foi uma paixão familiar (ainda que os 5 tenham gostos muito diversos) e aos 8 anos minha mãe impôs: já sabe ler - tens que fazer bom uso disso. Me comprou um almanaque de capa verde da Disney (Pateta, Mickey, Tio Patinhas e a turma) Demorei meses para ler aquilo, não porque era difícil, mas porque era mais fácil brincar. Mas li e na seqüência passei anos lendo gibis a torto e a direito. Li mais de mil. Fácil.

Nessa época comecei a escrever pra escola. Redações sobre os temas mais imbecis (obrigado, professoras). Acabei ficando bom nisso (em escrever coisas imbecis, tão ou mais idiotas quanto as que eu escrevo hoje) e empilhando boas notas. Nessa fase, nova pressão materna pela leitura de livros (combatida já pela insistência professoral escolar de nos empurrar os mais enfadonhos exemplares que um pré-adolescente pode ser obrigado a produzir resenhas sobre).

Com o tempo o gosto acabou vindo ao natural e há uma década escrevo e leio por gosto, sem me importar pela ausência de avaliadores. Avalio eu o que é bom. Se o que eu escrevo é bom? Isso j´não me interessa.

Esquilo é o Novo Rato é bom (google it, by Mateus D'Almeida). Why the Fuck am I Reading That é ótimo (by Pyw Lindemann). Os russos são excelentes. Aliás, acabei de terminar de ler The Great Gatsby e achei mais ou menos (ainda mais para uma obra tão bem considerada da literatura norte-americana). Me pareceu um conto deveras extenso, demasiado comum, extremamente dependente de sua localização geográfica e temporal.

Felizmente minha relação com as palavras nada tem a ver com hábito. Melhor ainda, minha escrita nada tem a ver com expor coisa alguma senão a mim mesmo (ainda que acreditem que vez ou outra eu exponho a outrem - babacas).

Ler

É instigante como o que eu escrevo pode despertar a mais ampla gama de sensações nos que me lêem. Se escrevo sobre um porre, minha mãe acha que eu sou alcoólatra, meus amigos acham que eu sou legal, minha irmã acha que eu cresci meu irmão nem me lê. Ah, e alguns acham me entendem por isso.

Se escrevo de saudades, acaricio o ego dos saudosos, maltrato a auto-estima dos correntes.

Nem sequer concordo com muito do que escrevo. Não me levem a sério. O que escreve não é o que pensa. Aliás, nem sei se algo do que escrevo é fruto de alguma reflexão.

Não me levem mais a sério do que eu levo a eu mesmo, por favor.

Escrever

É interessante o que desperta em mim o ato de escrever. Vez ou outra me falta inspiração, vez ou outra me sobra, geralmente sou refém do que acontece à minha volta, tento reportar o que minha alma vê através dos olhos.

Antiguidades

www.iamthebira.blogspot.com

Verano en Madrid

Calor, muito calor. Escapei do mês de julho em uma incursão pelo gélido inverno gaúcho, mas fui atropelado por um agosto abafado. É sair na rua e sentir o ar lamber o corpo, forçando a mais pegajosa transpiração. O verão europeu não é lindo, é cruel. Era a única estação do continente que ainda desconhecia. Não há ar condicionado que salve, apenas que amenize o calvário.

Esclareço, também, que sou um admirador do inverno, do frio, do agasalho e do vento que racha os lábios. Mãos nos bolsos e cerveja na borda da janela para gelar.

Wednesday, August 12, 2009

Personagens da Vida V

Paris: Meu primeiro amigo em Madrid. Representação fielíssima (vou lá saber o superlativo de fiel) do mais caricato estereótipo de um boêmio. Bebe, fuma, pede emprestado, entende que "emprestado" significa "dado", magro, inteligente, pintor, poliglota, filho de embaixador e afilhado do Chico Buarque. Se perdeu de amores por uma argentina que trabalhava onde? Num bar. Sumiu, foi pra Grécia. Daqui a pouco volta (?). Já conheceu o Paul MacCartney (isso ele diz. Eu escolho acreditar porque seria um desperdício duvidar).

Fumaça

Uma coisa apaixonante no cigarro, aquilo que eu acredito que é a primeira característica do tabaco que atrai a atenção de um jovem e o arrasta para o vício é a sensação de superioridade. Me lembro do meu primeiro cigarro, da época em que não ansiava pela nicotina após um voo de 10 horas, me lembro de ser um adolescente inseguro (evidentemente) e que aquele palito de palha na mão me deixava tranquilo e me fazia desdenhar dos outros. Em qualquer ocasião social, me sinto acuado quando impedido de fumar, me sinto um homem com a fumaça no peito (nunca fui muito fã de cinema antigo, então não faço idéia de como esta imagem se construiu na minha cabeça).

Dei uma pausa no inventário de pessoas interessantes que conheci na minha vida devido à criação do blog 100000cigarros.blogspot.com da Milena Fischer (jornalista, mãe da Manu e irmã - o mais importante) que acompanha sua tentativa de largar este tão elegante vício. Algo parecido acontece comigo, já que a Tara vem me incomodando para parar (incomodando é um verbo muito mal utilizado nesta ocasião, dado que a causa é nobre) e me pareceu conveniente abordar o assunto.

Pra começar (já no terceiro parágrafo...), admito: gosto de fumar. Gosto do primeiro cigarro do dia, gosto do último cigarro antes de dormir, gosto do cigarro depois do almoço, do cigarro com a cerveja e por aí vai. Gosto do sabor, gosto da sensação e tudo o mais. Mata? Sempre usei o argumento de que "viver mata", de que "nunca se sabe o amanhã" e blablabla. Errado, mata sim, e apenas aceitamos o vício porque mata devagar. Óbvio. Quantos fumantes haveriam se uma tragada matasse? Ou um maço? Ou um pacote? Mas o cigarro é muito mais atraente que isso. Mata devagarinho. 100 mil não é o suficiente (mas te causa uma forte bronquite, certo, Mi?). Quantos? 500 mil? 1 milhão? E assim construímos um cotidiano baseado no tabaco. Fazemos amigos em função de compartilhar o vício, criamos rotinas aliadas ao cigarro e tornamos mais e mais difícil largar o fumacento porque criamos conexões no cérebro que acabam associando praticamente tudo ao ato de inspirar e expirar fumaça.

Ao passo que reduzo meu consumo de cigarros (já foi de 30 a cada 24 horas, agora é de 5), percebo que meus limites de paciência são mais tênues, que me torno mais irritadiço e percebo como é deprimente a tal crise de abstinência. Como é triste ver todo o humor se alterar com uma tragada.

Mas como também é lindo. Como é sedutor o sabor cremoso da fumaça. Eu não vou ser hipócrita e dizer que é repugnante. Acho uma das melhores coisas do mundo. Em verdade, nem penso (ainda?) em largar, apenas em reduzir a um nível mínimo. Não posso ser mais o fumante despreocupado. Não tenho mais esse direito. Divido um teto agora.

Tuesday, August 11, 2009

Personagens da Vida IV

Adão: Taxista que uma vez conduzia Cainelli e eu a mais uma noite de hedonismo da região Goethiana de Porto Alegre. Assumiu (?) que já havia se deitado com mais de 2 mil mulheres e a sua conclusão final sobre sua vida amorosa foi que "bom mesmo é mulher feia, porque tu até fica feliz quando ela te larga (...) e elas vão te largar mai cedo ou mais tarde, então quanto mais feia, melhor". Um filósofo.

Monday, August 10, 2009

Personagens da Vida III

Renan: Conheci ainda quando éramos muleques e o seu cabelo era branco de tão loiro. Depois de uma série de oportunidades que a vida nos deu de no tornarmos amigos, foi definitivamente um porre de tequila que nos aproximou. Cidadão carismático, dono de um portentoso cavanhaque e uma demolidora direita no tênis, um dos mais eficientes jogadores de futebol que a história já produziu a nível amador. Goza de um belo cartaz com a mulherada muito devido à sua fama internacional alcançada através da música.

Sunday, August 9, 2009

Personagens da vida II

Aírton: Cara gordinho, simpático e com cavanhaque. Rodava pelos 40 e alguns anos e foi alvo de uma ironia do destino que envolvia uma piada jocosa com o futuro do amigo Pyw e que (sem nenhuma intenção) correspondia à vida dele. Dizia que estava em Laguna (carnaval de 2002, rico carnaval) por uma mulher. Nos levou pruma praia com o argumento de ser paradisíaca e que era na verdade coberta por restos fecais de bovinos e equinos. Tentou me agarrar (de brincadeira?) na janela do nosso pardieiro.

Personagens da vida

Pyw: Sujeito carismático. Sempre tem uma boa história para contar, ainda que em geral elas sejam apenas baseadas em fatos e nem sempre os personagens desempenharam o papel que nos é transmitido (mas isso não é importante). Gosta bastante de cerveja e coisas fritas (e isso explica muito do porquê de gostar eu dele). Vive uma vida dupla. Fosse casado teria duas famílias. Desafio uma mulher a convencê-lo ao matrimônio. Certeza que já fez mais de mil gols.

Saturday, August 8, 2009

Calles

Vez ou outra, volta e meia, nada que represente muita frequencia, eu me questiono sobre eu mesmo. Em geral me sinto um tanto quanto deprimi do nestes momentos de auto-avaliação. Nem sei bem ao certo o porquê.

Me dá, sei lá, vontade de caminhar. De seguir e nunca mais parar, nunca mais voltar, de levar uma carteira de cigarro no bolso e mais nada. Perder todo e qualquer compromisso já firmado e esperar que com o tempo mais nenhum lençol de expectativas voltasse a me cobrir. Não permitir mais espaços para decepções.

Fica complicado com o tempo entender a trama de escolhas que nos leva de um lugar a outro. O emaranhado caótico de caminhos cruzados, de certos e errados, de direitas e esquerdas, de vou ou não vou, enfim, de quase tudo.

Arrependimento. Frustração. Mantenha as expectativas baixas, Bruno, bem baixas. Não te esqueça que a natureza já te quis morto ou nem sequer fez questão de que tu nascesse. Tu é um erro do ponto de vista seletivo. Ao menos seja um erro que deu certo (e lá vamos com as expectativas de novo).

Preciso de um copo de água.

Wednesday, August 5, 2009

Tocando em Frente

Eu fui uma criança polionírica (significando que nunca fui escravo de um sonho apenas, mas de vários). Nem sei se essa palavra existe, mas exposto o significado me sinto à vontade de seguir com o que interessa.

Nunca fui alguém satisfeito, nunca serei alguém satisfeito. Todos esses sonhos se expandiram muito além das minhas primeiras infâncias e proporcionalmente cresceram junto com os horizontes que se deitavam ao redor do meu mundo. Mas quando estes sonhos deixam o mundo das possibilidades e começam a se concretizar me fica mais cristalina a percepção de que trazem consigo um temporal de renúncias. Uma tempestade de dúvidas sobre o que sempre pareceu tão óbvio. O inevitável sentimento de insatisfação me domina uma vez mais.

Não houve um dia em minha vida no qual não tenha sonhado em conhecer o mundo. Em preparar uma mochila e desbravar o maior número de fronteiras que estivesse ao alcance das idéias. Mas cá estou, em processo de realização disto tudo e insatisfeito. Não somente insatisfeito, magoado, ferido, acuado, em dúvida. Li o que minha irmã escreveu sobre a minha re-partida do Porto Alegre. Mói, tritura, processa e serve meu coração no balcão do açougue para rechear algum pastel em um bar de limpeza duvidosa seja lá onde for.

Melodramático? Ora, apenas um imbecil pensaria em exagero em alguma coisa. Felizmente não sou rodeado de tais exemplares de besta. Tenho apreço por poucos, poucos e bons e sei que são poucos os que têm real apreço por mim. E isso me enobrece. Misantropo, classificou-me um dia um destes bons. Sim, um tanto quanto. Sim, tens razão. Mas não referentemente a estes.

E sigo, comendo pastel de carne moída de coração pra poder seguir, sonhando para não parar, reclamando para não deixar de ser eu e sem absolutamente nenhuma certeza do que será, de onde chegarei e do que terei que deixar pra trás por isso.