Wednesday, August 12, 2009

Fumaça

Uma coisa apaixonante no cigarro, aquilo que eu acredito que é a primeira característica do tabaco que atrai a atenção de um jovem e o arrasta para o vício é a sensação de superioridade. Me lembro do meu primeiro cigarro, da época em que não ansiava pela nicotina após um voo de 10 horas, me lembro de ser um adolescente inseguro (evidentemente) e que aquele palito de palha na mão me deixava tranquilo e me fazia desdenhar dos outros. Em qualquer ocasião social, me sinto acuado quando impedido de fumar, me sinto um homem com a fumaça no peito (nunca fui muito fã de cinema antigo, então não faço idéia de como esta imagem se construiu na minha cabeça).

Dei uma pausa no inventário de pessoas interessantes que conheci na minha vida devido à criação do blog 100000cigarros.blogspot.com da Milena Fischer (jornalista, mãe da Manu e irmã - o mais importante) que acompanha sua tentativa de largar este tão elegante vício. Algo parecido acontece comigo, já que a Tara vem me incomodando para parar (incomodando é um verbo muito mal utilizado nesta ocasião, dado que a causa é nobre) e me pareceu conveniente abordar o assunto.

Pra começar (já no terceiro parágrafo...), admito: gosto de fumar. Gosto do primeiro cigarro do dia, gosto do último cigarro antes de dormir, gosto do cigarro depois do almoço, do cigarro com a cerveja e por aí vai. Gosto do sabor, gosto da sensação e tudo o mais. Mata? Sempre usei o argumento de que "viver mata", de que "nunca se sabe o amanhã" e blablabla. Errado, mata sim, e apenas aceitamos o vício porque mata devagar. Óbvio. Quantos fumantes haveriam se uma tragada matasse? Ou um maço? Ou um pacote? Mas o cigarro é muito mais atraente que isso. Mata devagarinho. 100 mil não é o suficiente (mas te causa uma forte bronquite, certo, Mi?). Quantos? 500 mil? 1 milhão? E assim construímos um cotidiano baseado no tabaco. Fazemos amigos em função de compartilhar o vício, criamos rotinas aliadas ao cigarro e tornamos mais e mais difícil largar o fumacento porque criamos conexões no cérebro que acabam associando praticamente tudo ao ato de inspirar e expirar fumaça.

Ao passo que reduzo meu consumo de cigarros (já foi de 30 a cada 24 horas, agora é de 5), percebo que meus limites de paciência são mais tênues, que me torno mais irritadiço e percebo como é deprimente a tal crise de abstinência. Como é triste ver todo o humor se alterar com uma tragada.

Mas como também é lindo. Como é sedutor o sabor cremoso da fumaça. Eu não vou ser hipócrita e dizer que é repugnante. Acho uma das melhores coisas do mundo. Em verdade, nem penso (ainda?) em largar, apenas em reduzir a um nível mínimo. Não posso ser mais o fumante despreocupado. Não tenho mais esse direito. Divido um teto agora.

1 comment:

Camila said...

Depois de muito tentar, parei. Difícil demais, visto que TODOS na minha casa fumam... sou a traidora do movimento, saca? Parei pela natação, aí parei de nadar e continuo sem fumar, felizmente. COncordo com td o q diz.. as rotinas principalmente, e no fato de associarmos coisas boas com o maldito. TUDO o que é bom, fica melhor se acompanhado de um cigarrin.
Vou para Cidade do Cabo ano q vem, mas sabe q Espanha tb me atrai, preciso de sapatos de flamenco novos.