Monday, August 17, 2009

Reflexões de uma Vida Gremista

Certa feita, não muitos dias atrás, o amigo Pyw escreveu uma bela peça sobre sua vida como colorado (http://whythefuck.wordpress.com/2009/07/17/memorias-de-uma-infancia-colorada/) e me foi sugerido que fizesse a réplica gremista.

Nada em mim inspira uma réplica ao impecável texto referido, ao que vou expor uma simples versão em três cores inspirada pela obra mestra.


REFLEXÕES DE UMA VIDA GREMISTA

Eu não nasci gremista. Eu não me despertei para o futebol pelo Grêmio. Que faço? Nasci numa casa com uma mãe que passou boa parte de sua formação como ser humano no estado de São Paulo, com irmãos corintianos e palmeirenses (ela? totalmente indiferente), um irmão que não havia se decidido se era gremista ou palmeirense (talvez o rebaixamento do Grêmio para a segunda divisão no começo da década de noventa tenha tido alguma participação nisso) e uma irmã que não parecia se importar muito com isso. Mas tinha um pai, um homem quieto, nunca foi daqueles de ir ao estádio e vociferar ofensas ao juiz, xingar adversários ou usar em demasia as palavras de baixo calão. Mas gremista, mais gremista que qualquer babaca que balança uma bandeira, canta meia dúzia de músicas de ninar versão hard core e desrespeita a todo e qualquer ser humano ao seu redor. Então, este indivíduo singular foi meu molde para torcer para o tricolor.

E eu me lembro claramente de cada competição futebolística que ocorreu naquele ano de 1994. Já me aproximava dos 11 anos e de todas as responsabilidades que chegam com
essa idade. O Grêmio foi campeão da Copa do Brasil sobre o Ceará. Depois de um empate em 0 em Fortaleza, Nildo (Niiiiiiiiiiiildo) marcou o solitário gol do título em Porto Alegre. Estaríamos na Libertadores no ano seguinte, aquele campeonato estranho, do qual me recordava que havíamos participado alguma vez por um LP com uma foto do Renato Gaúcho comemorando um gol na capa sob os dizeres "O MUNDO É AZUL". E o Brasil no mesmo ano ganhava a Copa do Mundo, o famoso Tetracampeonato, o Palmeiras era campeão brasileiro, Criciúma campeão catarinense e o CSA ou o CRB campeão sergipano.

Foi muito fácil ser gremista na década de 90. Sequer entendia nos meus tenros anos como que alguém poderia ser colorado, como alguém podia escolher torcer para um time que não ganha nada nunca.

Mas e o que torcer tem a ver com ganhar?

Pois os gremistas descobriram o inferno nos anos 2000. Não apenas pelo rebaixamento, mas por uma sequencia de campanhas que nos deixava como única emoção nos campeonatos a perspectiva de não ser rebaixado. E caímos. Caímos feio e precisamos de uma reformulação completa de elenco no ano seguinte (além do mais memorável, e medíocre - é importante deixar isso bem claro - milagre da história do futebol) para retornarmos para a divisão de elite do futebol brasileiro, para uma nova de disputa de uma libertadores (ainda que frustrada) e sonhar com coisas maiores. Chegamos a liderar amplamente o brasileiro de 2008, apenas para entregarmos a taça a outra equipe, mas já sonhávamos diferentes, havíamos os gremistas recuperado a honra de torcer pelo time.

Mas, ora, que bobagem.

Eu não nasci gremista. Mas eu tampouco escolhi ser gremista. E a glória da taça me faz alegre, me faz chorar e saber que um mundo melhor é possível para todas as gerações futuras. O gol do título sob a égide tricolor me faz ter certeza que as mudanças climáticas nunca serão tão desastrosas como se declara e que o Brasil se tornará um dia um lugar digno de se viver (utopia das utopias). Mas não é nada disso que pulsa na minha essência de torcedor e é por isso que entendo os fanáticos colorados que nasceram e viveram toda sua infância e adolescência sem um título, entendo a torcida corintiana que se multiplicou nos anos de vacas magras. E mais, entendo o torcedor do Atlético de Madrid, do Palermo, do América de Natal e do próprio Atlético Mineiro. Times carentes de títulos e com estádios recheados de fãs ardorosos e fiéis.

E é isso que me faz gremista. É acordar feliz na segunda-feira quando o Grêmio ganhou, é acompanhar com expectativa a evolução da tabela de classificação do campeonato, é torcer por combinação de resultados. Sim, é tudo isso, mas é também não se importar tanto com isso, é simplesmente ter orgulho do seu time como se fosse seu pai, seu filho, seu irmão. Torcer pelo Grêmio é como torcer pela minha própria vitória.

2 comments:

Luciano Pyw said...

Muito bom! Sensível e nada clichê.
Como é bom ver um gremista falar sobre o seu time fugindo das batidas e vazias expressões do tipo "Imortalidade" ou "Alma Castelhana".

Renan said...

Lindo texto. Orgulho puro.