Tuesday, September 30, 2008

Santiago Bernabéu

Na mesma proporção que gosto de universidades, gosto de estádios de futebol. Logo, me era impossível não ir ao templo madrileño de Santiago Bernabéu, ainda que não simpatize muito com o Real Madrid.

15 euros pra entrar, com direito a nada senão a conhecer todos os ambientes do estádio, o que já me foi o suficiente. Cara, que estrutura fantástica! Museu de conquistas, sala de troféus, réplicas de uniforme, tudo. No final, óbvio, uma loja do clube.

Conheci ainda uns paraenses e um casal de paulistas (sério, só tem brasileiro nesta cidade), gente fina e dividimos uma mei dúzia de cervejas e um bife com batata frita pelo preço de caviar. Garçonete peruana (NÃO tem espanhóis nesse país) e o fato deles chamarem cerveja de caña marcaram a refeição.

Mas não muito mais o que visitar nessa cidade. Amanhã to indo pra Barcelona de noite e aí vamos ver se a melhor cidade da Eropa é bacana mesmo.

Monday, September 29, 2008

Notas

Nota 1: Aqui eles chamam deficiente de "minusválidos", o que é completamente incorreto politicamente e eu gosto.

Nota 2: Madrid no duerme é um disparate. Acabei de chegar de uma ronda solitária em busca de uma cerveja exótica e todos os bares vazios. Tá certo que é segunda-feir, mas foda-se. E cervejas exóticas na casa do garái, só tinha heineken e corona.

Nota3: Caipirinha faz sucesso aqui, apesar de eles fazerem no liquidificador.

Nota 4: Realmente tem muito brasileiro nesta cidade.

Nota 5: Povos que vivem em situações de ausência de criminalidade real são muito ingênuos. Conclamo traficantes e meliantes em geral a fazerem carreira na Europa.

La Universidad

Buenas, dediquei meu dia hoje a ir conhecer a universidade que me interessa em Madrid, a Autónoma. Universidades me interessam e muito, mais até do que estádios de futebol e, definitivamente, muito mais que museus, óperas e afins. Universidades são geradoras de conhecimento e um ambiente acadêmico desperta uma das poucas coisas boas que o ser humano tem a oferecer que é a razão.

A UAM fica bem afastada do centro da cidade, o que não é problema porque se tem uma coisa que estes europeus fazem com certa qualidade são os sistemas de transporte públicos. Descobri que se pode ir diretamente de trem, de ônibus, ou usando uma combinação entre metrô e ônibus. Buenas, eu tomo uma coca-cola (e ela pensa em casamento) e saio a procurar uma estação de metrô porque eu ainda não havia visto SEQUER UMA entrada de subway nesta cidade. Busco, procuro e desisto, chego àquele momento que todo homem odeia: pedir informações. Bah, quando incorro neste ato profano e impensado de perguntar ainda sou humilhado com o cara rindo e dizendo que estava a 5 metros de mim. E de fato, se erguia enorme placa indicativa daquele modal inexistente em Porto Alegre.

Buenas, chego lá na tal estação Plaza de Castilla que já fica nos arrabaldes de Madrid e pego o tal ônibus pra universidade. Ele vai e vi e vai e eu já não sei se passou pela universidade ou não até que decido pular fora numa cidade chamada Colmenar Viejo (mudar de cidade pra mim é indicativo de que você foi longe demais, amigo). Sério, lugar mais pacato do mundo. Quase dormi vendo a velocidade do mundo acontecendo ali. Tudo fechado, tudo. Deviam ser umas 15h. Siesta? Bandevagabum. Entro num hostal pra pedir informações e a mulher é super simpática e me indica com precisão milimétrica os passos que eu deveria tomar e que se eu tivesse tomado sem questionar a uma hora dessas tava na costa leste da África vendendo miúdos de peixe. Aliás, nota mental: mulheres espanholas são incrivelmente aprazíveis e educadas, homens espanhóis são realmente estúpidos e primitivos, via de regra. Uma boa motivação para manter maior contato com o universo feminino.

Bom, de tanto perguntar (é foda, é foda) acabei conseguindo chegar na universidade. E que bela instituição, aliás. Me lembra de filmes de sessão da tarde em universidades americanas com a tecla sap ligada. Belos prédios, gramados, campo de rúgby (ou futebol americano, como saber?). Bacana mesmo. Me rendo à cultura gramínea e, abrindo meu dostoiévski, jogo fora meia hora de caminhada pelo prazer da leitura ao ar livre. Engraçado, a grama deles aqui não dá comichão.

A noite se aprochega e o sono também. Ainda tô no fuso do Brasil, lógico. Decido voltar de trem mesmo, o que funciona muito melhor que minha tentativa anterior para chegar até o campus. Na volta pro hostal (agora descobri como chegar, depois de ter me perdido na primeira noite) compro mais um burguer king, canto o hino dos estados unidos com as líricas do cazaquistão no melhor estilo Borat e derrubo aquele rico sanduíche de grelhado, mais uma quantidade generosa de anéis de cebola e uma coca-cola do tamanho de jaboatão dos guararapes (mas ah!).

Primeras Impresiones de Madrid

Eu estive no museu do Louvre uma vez. Achei um porre, odeio coisa parada. Arte pra mim tem que ser dinâmica, tipo música, tipo cinema, tipo a Carla Perez dançando o tchã (puxei na nostalgia, han?). Quadros, esculturas e afins em gerl me aborrecem, sei lá, eles estão ali e são incapazes de te surpreender de verdade. Acho que alguns caras permitem em suas obras que alguns detalhes nos façam dizer "oh", mas não mais que isso. Digo isso pra justificar porque dificilmente frequento museus. Estive no Met, nesse de Paris e no Margs. Me basta.

Então, o museu do Prado e o Thyssen e o Reina Sofía e todos os os outros empilhados numa ola de prédios grndes foram apreciados apenas externamente. Nem sei porque falam tanto deste Prado aí. Aliás, em tudo que é aspecto cultural Madrid parece uma tentativa latinizada (consequentemente tosca) de repetir Paris. A vantagem da capital espanhola é ser mais limpa a ponto de tu não precisar andar na rua com a astúcia de uma bailarina russa para escapar de excrementos multi-espécies (ah tá que eu acredito que é só de cachorro) e a quase ausência de franceses.

No Parque del Retiro (do tamanho da redença, nada demais), curiosidades de domingo. Muitos brasileiros andando pra lá e pra cá e falano a velha língua do Camões, uns grupos multiétnicos fazendo a batucada mais sem graça da história num espaço anfiteatresco e os europeus se lambendo os beiços e dançando com a cabeça pra trás e os olhos fechados a la Luma de Oliveira na Sapucaí pela quinquilionésima vez. Não consegui apreciar ainda nenhum hábito interessante nesse povo espanhol. Aparentemente o futebol deles é só exportação mesmo, porqu é impossível um alvorecer de domingo sem nenhuma manifestação de hinchada no centro da cidade.

De verdade, nem vi ninguém jogando futebol, a exceção de uns bicos estratosféricos que uns africanos davam no meio da multidão enlouqueida pelo tumtchacatchacabum com o único objetivo aparente de quebrar pescoços de criancinhas e fazer pose de bad boy. Bad boy africano é uma boa, dispensa comentários adicionais.

Sunday, September 28, 2008

Pra começo de conversa

Vamos começar pelo começo.

Festa de despedida: chego em casa completamente bêbado às 7h da manhã depois de uma quantidade ofensiva de chope, alguns goles de bons uísques, jogos de lógica do Cainelli, histórias repetidas do Pyw (sempre muito boas) e o comparecimento de uma série de pessoas de grande relevância pra minha vida (valeu aí, bando de chinelos - porque pra ser meu amigo tem que ser chinelo).

Bom, mas ao que interessa. Passei mal pra garái na sexta, febre, ânsia de vômito, enfim, o pacote completo da ressaca. Melhorei no sábado e me sentia quase a 15% pra poder viajar. Neste ritmo contagiante cheguei no aeroporto, encontrei o Cainelli na fila do "chequinho" e fiquei sabendo que ia no mesmo vôo que a irmã dele. Ia, como eu me recuso a me submeter a normas de conduta de companhias aéreas fiquei me despedindo/fumando e na entrada do embarque recebi a informação que eu, além de ter atrasado a vida de 300 passageiros, havi perdido o vôo. OPA! Tensão? Nada, sem tempero não tem graça, seu garçom.

Acabei pegando um vôo que chegava em cima da hora do meu horário de check-in em São Paulo. Todos os meus sonhos de ir num vôo vazio que me permitisse dormir como um ser humano no vôo de 10h se acabaram com a presença de um vietnamita com boné dos yankees do meu lado e que me cutucou porque queria ir no banheiro (ao menos eu estava no corredor) na única vez que eu havia sido bem sucedido em uma tentativa de soneca. Valeu aí sudeste asiático. Napalm pra vocês.

Sério, avião mais apertado do mundo e eles ainda nos fazem passar pela primeira classe e pela executiva, o que é muito humilhante e degradante (acho que o seu Seinfeld já comentou isso num dos seus stand-up shows). Piores filmes, também. Primeiro um de uma guria que vivia numa ilha e lia livros, mas ao menos era cinema americano, recheado de lógica digerível. O outro era cinema catalão, totalmente estúpido sobre um guri ruivo que apanhava na escola e conseguia uma namorada por isso (Te Pego Lá Fora versão debilóide).

Bom, cheguei em Madrid. Nada como ter visto. Eles realmente incomodam brasileiros, ao passo que pessoas de outros países da América do Sul eles são uns doces (rá, queriam nos colonizar e não conseguiram, losers). Mas foda-se, nem me perguntaram nada, YO TENÍA EL VISADO.

Maior aeroporto do mundo. Tive que pegar um trem pra chegar na esteira de bagagem. E a bagagem já estava lá, como pode? Sério, um trem. Buenas, saí, né, e aquele terror de não ter ninguém te esperando ou dando a mínima pra ti (gol do grêmio, VAMO!). Peguei um táxi pra não me sentir sozinho e praticar o espanhol. Tá um lixo ainda, mas já melhorou um pouco desde que cheguei (12 horas atrás). Vai se falando e vai voltando.

Bom, larguei minhas coisas numa pensão e saí pra caminhar, o que fiz por 8 horas consecutivas. Também não paro mais de caminhar, a única vez que resolvi me sentar ao lado do tal do Parque do Retiro me pára uma viatura policial e o cara vem me fazer perguntas sobre tentativas de arrombamento de carros naquela área, que eles tinham recebido uma ligação de um morador. Ah pá puta que os pariu. TENTATIVA de arrombamento, que criminalidade subdesenvolvida nessa Europa. Dá 14 segundos pra qualquer moleque da Restinga e já era, tá ligado? Mas aí o cara desconfiou de mim apesar de eu não ter me mexido e ter fumado tranquilamente um cigarro enquanto ele me interrogava e olhava pra todos os lados. Dei meu passaporte, saca? O cara pergunta porque eu ainda não tirei meu documento de estrangeiro. Porra, cheguei agora, mermão! Sulamericano só se fode mesmo.

Fiquei bandeando mais um tempo, cuidando pra não parar mais de um nanossegundo no mesmo lugar, só pra não dar pano pra manga, manja? Fui num locutório ligar pra casa e olhar meus emails e quase desmaiei. Opa, fazia 10 horas que eu não comia nada. Comprei um gatorade e comecei minha jornada em busca de comida e um banheiro porque minha bexiga tava do tamanho do saco do papai noel em noite de são nicolau. Burger King. Ah! Como é doce o sabor da América do Norte!

Agora tô aqui no Hostal Dulcinea, Calle de Cervantes (se não sacou o nome da pensão é porque precisa ler mais, mané), deitado numa cama relativamente macia e com a grnde vantagem de não ter um cambojano com bonés de beisebol me incomodando. Viva a solidão.

Ah, momento reflexivo. Durante minha caminhada pensei várias vezes: que diabos eu to fazendo aqui? não sei ainda, mas tenho 4 anos pra descobrir e não vou desistir tão fácil, tampouco ficar me lamuriando. Vou dar a estes espanhóis o sabor agridoce da minha personalidade e eles que sobrevivam a isso!