Sunday, May 31, 2009

Vésperas

Vésperas, engraçado usar essa palavra como título (me lembra vespas, me dá uma idéia de enxame, me faz refletir sobre o caos). 8 meses vivendo em Madrid, Espanha, Europa, prestes a completar 26 anos sobre solos nem tão sagrados, mas ainda firmes (tive uma experiência aeronáutica semana passada bastante desagradável).

Planejava escrever sobre nostalgia, sobre como as ruas de Porto Alegre à noite me trazem conforto, sobre como tempos anteriores eram felizes e aventurosos, sobre como o cheiro da primavera na redenção me despertava os sentidos. Mentira. Nem toda, mas fã de generalizações que sou, digo que TODA nostalgia é falsa, é baseada numa imaginação retroativa imbecil e seletiva. As ruas de Porto Alegre jamais me trouxeram conforto enquanto por elas navegava, os momentos felizes e aventurosos sim existiram, mas foram tão mágicos quanto contamos em uma folha de papel? E ao inferno com o cheiro de primavera nos parques (e que cheiro é esse? O que a liturgia é capaz de nos emburrecer...).

O melhor dos mundos possíveis. Sim, panglossiano ao extremo (que me perdoem os que não estão familiarizados com o a expressão, mas deveriam ler mais) e perdido por aí, certo que serei o próximo idiota a lamentar a falta da capital espanhola, das suas calles, dos seus aromas. Bêbado de estupidez, desdirei tudo que digo aqui. Serei mais sábio (ainda que a sabedoria seja a maior forma de estupidez no que diz respeito à satisfação pessoal), mais velho, mais seguro. 26 anos. Idade demasiado avançada para ser prodígio em qualquer coisa, novo demais para fazer respeitar minhas idéias (quem sabe perante eu mesmo).

Mas a reflexão que faço é de que, ainda que mais próximo dos 30, me sinto mais ignorante que aos 15. Na adolescência, pensava que meus pais eram atrasados, que estavam desatualizados, pensava que a fama era o caminho da glória e que aos 26 dominaria o mundo do topo. Hoje, percebo em meus pais a mais límpida, prática e contundente forma de sabedoria. Vejo neles o humano, não apenas a instituição parental, o ideal, o respeito, o entendimento mais clássico e valioso do significado do amor. Hoje, quero ser nulo, quero que ninguém me reconheça (a não ser aqueles que eu quero reconhecer), quero transitar em paz. Nada quero dominar, senão a eu mesmo e vejo aí um grande caminho a ser percorrido. Não quero amar por amar e tanto menos viver por viver. Quero ter cuidado e ser político (o que pode me levar a nem sempre ser verdadeiro) e quero ser melhor.

Reconheço os que me amam, os que gostam de mim, os que me respeitam, os que me temem, os que me mentem, os fiéis e os infiéis, os que deixariam de ganhar para não me deixar perder (poucos, muito poucos) e os que fariam de tudo para me verem mal (poucos também, não sou prepotente de acreditar que sou tão relevante assim) e os indiferentes.

26 anos. 26 anos de erros e acertos, de mágoas e lembranças, de aprendizado (muito). Não 26 anos repletos de glórias absurdas como minha memória neste momento quer me fazer crer.

2 comments:

Haydée Borges said...

Achei que vc tinha abandonado isso aqui! Não vou te dar os parabéns hoje, deixa pra quinta (é quinta, né?). Se eu me esquecer, dá um desconto aí que minha cabeça de 25 tá pior do que muitas de 65...

Anonymous said...

me emocionei prá dedéu.....
Vc é tudo que eu queria pensar de ser e fui e deixei de ser.

Mutta